O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, ganha nova adaptação para o cinema
Com direção de Jayme Monjardim, superprodução custou R$ 13 milhões e teve roteiro reescrito 27 vezes
Estado de Minas
Publicação:23/09/2013 10:12Atualização: 23/09/2013 10:24
Não se pode dizer que o risco não foi calculado. Foi. E bastante. O diretor Jayme Monjardim sempre soube que transitava em terreno delicado. Considerada umas das obras mais vigorosas da literatura brasileira, O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, é um desafio para os adaptadores, independentemente da época ou do formato escolhido. Ainda assim, o diretor veterano em novelas encarou o risco. “Fui totalmente tomado por medo e pânico. A minha intuição sempre foi de que estava mexendo em uma área perigosa, mas que era inteiramente livre. Nós é que tínhamos receio. Na verdade, a obra está aí, aberta”, afirma o cineasta.
Protagonizado por Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda, com Cléo Pires e Marjorie Estiano no elenco, o longa-metragem chega aos cinemas dia 27, fadado a dividir a plateia. Se a legião de fãs da saga gaúcha escrita entre 1949 e 1961 é grande, há ainda a turma que conheceu a história pela telinha. O tempo e o vento, dirigida por Paulo José em 1985, foi uma das minisséries mais marcantes da televisão brasileira. Quem não se lembra de Glória Pires como Ana Terra e Tarcísio Meira como capitão Rodrigo? Antes disso, em 1967, o diretor Dionísio de Azevedo já havia feito sua versão. De um jeito ou de outro, a trama ficou na memória e as comparações serão inevitáveis. A motivação de Jayme Monjardim, no entanto, era maior que o medo.
“Acho que O tempo e o vento tem um lado épico, uma grande história de amor, e senti que estava ali o meu …E o vento levou”, brinca Monjardim. Com todo o cuidado que merecem as comparações de obras que tratam de realidades distintas, ele tem sua cota de razão. A produção de R$ 13 milhões é mesmo épica. O roteiro assinado pelos gaúchos Letícia Wierzchovski e Tabajara Ruas demorou sete anos para ficar pronto. Foram mais de 27 versões até chegar ao ponto final.
O caminho escolhido, por fim, foi investir em um olhar feminino. Toda a saga é narrada por Bibiana, personagem de Fernanda Montenegro. “Está sendo contado sob a ótica do amor eterno de Bibiana por seu capitão Rodrigo. Se não fosse a Fernandona, talvez não tivesse o filme. Acho que ela é um pouco de todas as Bibianas brasileiras”, analisa Monjardim. “É um livro com grandes pulos temporais. Colocar isso na voz de um personagem torna a história mais didática para o espectador. É como se tivéssemos um olhar para levá-lo ao universo incrível do Erico Verissimo”, explica Letícia.
Originalmente, O tempo e o vento é uma trilogia formada pelos livros O continente (1949), O retrato (1951) e O arquipélago (1961). O romance conta uma parte significativa da história do Rio Grande do Sul, que vai de 1745 até 1945, a partir da disputa de duas famílias: a Terra Cambará e a Amaral. Como se trata de obra muito complexa, tanto o diretor como a equipe de roteiristas sempre tiveram em conta que em algum momento precisariam dosar a obediência ao texto de Verissimo.
“Este é o barato da adaptação cinematográfica: é uma outra visão”, ressalta o diretor. “O convite foi superlegal, mas também um pouco apavorante. Sou uma escritora e admiro muito o Erico. Mexer em uma obra de que você gosta tanto dá um certo pavor”, reconhece Letícia. Mas a autora de A casa das sete mulheres – livro adaptado para a TV sob a direção de Monjardim – foi especialmente convidada para estrear como roteirista de cinema nesta obra. O negócio era mesmo a visão feminina em trama pontuada por guerras e muito sangue.
Quase marca registrada do diretor, O tempo e o vento tem belas imagens panorâmicas dos pampas rio-grandenses. A fictícia cidade de Santa Fé, com 17 edificações e 10 mil metros quadrados, foi construída na região de Bagé. O figurino é uma homenagem aos trajes gaúchos, com destaque para as tradicionais bombachas. Já a trilha sonora, assinada pelo maestro paulista Alexandre Guerra, é muito marcada por coros e orquestra. Foi gravada no estúdio da Sinfônica de Budapeste, na Hungria.
Confira o trailer
O tempo e o vento
Na televisão
» 1967 – Seis anos depois da publicação, o romance foi adaptado por Teixeira Filho, com direção de Dionísio de Azevedo. Exibida na TV Excelsior, a série teve Carlos Zara como capitão Rodrigo, Geórgia Gomide foi Ana Terra e Maria Estela interpretou Bibiana.
» 1985 – Dividida em quatro partes, a minissérie O tempo e o vento, dirigida por Paulo José, foi exibida entre 22 de abril e 31 de maio. Foram adaptados os capítulos Ana Terra, Um certo capitão Rodrigo e O sobrado. Glória Pires fez Ana Terra, Tarcísio Meira e Louise Cardoso o casal Rodrigo Cambará e Bibiana.
No cinema
» 1956 – O sobrado, de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes
A primeira adaptação para o cinema concentrou-se na última parte do romance. Teve os atores Fernando Baleroni como Licurgo, Bárbara Fazio como Ismália e Adriano Stuart como Rodrigo Terra.
» 1971 – Um certo capitão Rodrigo, de Anselmo Duarte
Filmado em General Câmara, Triunfo, Santa Maria e Santo Amaro, tinha no elenco Francisco di Franco como Rodrigo Cambará e Elza de Castro como Ana Terra.
» 1972 – Ana Terra, de Durval Garcia
Com papel-título interpretado por Rossana Ghessa, o longa foi rodado em Cruz Alta.
Outras mídias
O tempo e o vento foi feito para o cinema, mas isso não exclui a presença da produção de Monjardim em outras mídias. “É impossível não abrir perspectivas para outras janelas quando se faz um filme tão longo. É lógico que, acabada a campanha do cinema, com certeza vamos sentar e fazer uma versão para a TV. Isso é normal, faz parte do processo dos grandes filmes”, conta Jayme Monjardim. Como e quando o longa será adaptado para a telinha é mantido em segredo pelo diretor.
Thiago Lacerda contracenará romance com a atriz Marjorie Estiano
Protagonizado por Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda, com Cléo Pires e Marjorie Estiano no elenco, o longa-metragem chega aos cinemas dia 27, fadado a dividir a plateia. Se a legião de fãs da saga gaúcha escrita entre 1949 e 1961 é grande, há ainda a turma que conheceu a história pela telinha. O tempo e o vento, dirigida por Paulo José em 1985, foi uma das minisséries mais marcantes da televisão brasileira. Quem não se lembra de Glória Pires como Ana Terra e Tarcísio Meira como capitão Rodrigo? Antes disso, em 1967, o diretor Dionísio de Azevedo já havia feito sua versão. De um jeito ou de outro, a trama ficou na memória e as comparações serão inevitáveis. A motivação de Jayme Monjardim, no entanto, era maior que o medo.
“Acho que O tempo e o vento tem um lado épico, uma grande história de amor, e senti que estava ali o meu …E o vento levou”, brinca Monjardim. Com todo o cuidado que merecem as comparações de obras que tratam de realidades distintas, ele tem sua cota de razão. A produção de R$ 13 milhões é mesmo épica. O roteiro assinado pelos gaúchos Letícia Wierzchovski e Tabajara Ruas demorou sete anos para ficar pronto. Foram mais de 27 versões até chegar ao ponto final.
O caminho escolhido, por fim, foi investir em um olhar feminino. Toda a saga é narrada por Bibiana, personagem de Fernanda Montenegro. “Está sendo contado sob a ótica do amor eterno de Bibiana por seu capitão Rodrigo. Se não fosse a Fernandona, talvez não tivesse o filme. Acho que ela é um pouco de todas as Bibianas brasileiras”, analisa Monjardim. “É um livro com grandes pulos temporais. Colocar isso na voz de um personagem torna a história mais didática para o espectador. É como se tivéssemos um olhar para levá-lo ao universo incrível do Erico Verissimo”, explica Letícia.
Originalmente, O tempo e o vento é uma trilogia formada pelos livros O continente (1949), O retrato (1951) e O arquipélago (1961). O romance conta uma parte significativa da história do Rio Grande do Sul, que vai de 1745 até 1945, a partir da disputa de duas famílias: a Terra Cambará e a Amaral. Como se trata de obra muito complexa, tanto o diretor como a equipe de roteiristas sempre tiveram em conta que em algum momento precisariam dosar a obediência ao texto de Verissimo.
“Este é o barato da adaptação cinematográfica: é uma outra visão”, ressalta o diretor. “O convite foi superlegal, mas também um pouco apavorante. Sou uma escritora e admiro muito o Erico. Mexer em uma obra de que você gosta tanto dá um certo pavor”, reconhece Letícia. Mas a autora de A casa das sete mulheres – livro adaptado para a TV sob a direção de Monjardim – foi especialmente convidada para estrear como roteirista de cinema nesta obra. O negócio era mesmo a visão feminina em trama pontuada por guerras e muito sangue.
Quase marca registrada do diretor, O tempo e o vento tem belas imagens panorâmicas dos pampas rio-grandenses. A fictícia cidade de Santa Fé, com 17 edificações e 10 mil metros quadrados, foi construída na região de Bagé. O figurino é uma homenagem aos trajes gaúchos, com destaque para as tradicionais bombachas. Já a trilha sonora, assinada pelo maestro paulista Alexandre Guerra, é muito marcada por coros e orquestra. Foi gravada no estúdio da Sinfônica de Budapeste, na Hungria.
Confira o trailer
O tempo e o vento
Na televisão
» 1967 – Seis anos depois da publicação, o romance foi adaptado por Teixeira Filho, com direção de Dionísio de Azevedo. Exibida na TV Excelsior, a série teve Carlos Zara como capitão Rodrigo, Geórgia Gomide foi Ana Terra e Maria Estela interpretou Bibiana.
» 1985 – Dividida em quatro partes, a minissérie O tempo e o vento, dirigida por Paulo José, foi exibida entre 22 de abril e 31 de maio. Foram adaptados os capítulos Ana Terra, Um certo capitão Rodrigo e O sobrado. Glória Pires fez Ana Terra, Tarcísio Meira e Louise Cardoso o casal Rodrigo Cambará e Bibiana.
No cinema
» 1956 – O sobrado, de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes
A primeira adaptação para o cinema concentrou-se na última parte do romance. Teve os atores Fernando Baleroni como Licurgo, Bárbara Fazio como Ismália e Adriano Stuart como Rodrigo Terra.
» 1971 – Um certo capitão Rodrigo, de Anselmo Duarte
Filmado em General Câmara, Triunfo, Santa Maria e Santo Amaro, tinha no elenco Francisco di Franco como Rodrigo Cambará e Elza de Castro como Ana Terra.
» 1972 – Ana Terra, de Durval Garcia
Com papel-título interpretado por Rossana Ghessa, o longa foi rodado em Cruz Alta.
Outras mídias
O tempo e o vento foi feito para o cinema, mas isso não exclui a presença da produção de Monjardim em outras mídias. “É impossível não abrir perspectivas para outras janelas quando se faz um filme tão longo. É lógico que, acabada a campanha do cinema, com certeza vamos sentar e fazer uma versão para a TV. Isso é normal, faz parte do processo dos grandes filmes”, conta Jayme Monjardim. Como e quando o longa será adaptado para a telinha é mantido em segredo pelo diretor.