Apesar de falhas, 'Reza a lenda' se mostra divertido
Homero Olivetto estreia na cadeira de diretor em longa estrelado por Cauã Raymond
Ricardo Daehn
Publicação:22/01/2016 07:00

'Reza a lenda' se afirma na exploração de traços folclóricos e exóticos
É quase tão irresistível quanto mentiroso comparar o longa de estreia do diretor Homero Olivetto com o Mad Max oitentista de Mel Gibson. Está em cena um bando de personagens de visual desalinhado, que se contorce em cima de motos e de asfalto que racha debaixo de sol, mas é só. Reza a lenda se afirma na exploração de traços folclóricos e exóticos, pendendo mais para Acquária, aquela aventura na seca protagonizada por Sandy e Junior, em 2003.
Estiloso e dotado de estranhamento, pelo roteiro confuso, o filme mostra um sertão tão colorido quanto o de As três Marias, assinado por Aluizio Abranches. Liderados por Ara, personagem de Cauã Reymond, justiceiros quase urbanos se arriscam indo de encontro à figura do poderoso Tenório (Humberto Martins), vinculado à imagem de uma santa, um estandarte contra a seca.
Por momentos, o filme de Olivetto (corroteirista de Bruna Surfistinha) ganha feições de fim de rave, com montagem nervosa e alguma desconexão — até Pitty, com Serpente, está na trilha sonora. Num clima chapado, a fita traz narrativa que subaproveita personagens como os de Sophie Charlotte, Jesuíta Barbosa e Luisa Arraes.
Ao manipular temas como fé e ação, o filme deve emplacar interesse popular. Não há como negar também a dose de originalidade com o bizarro uso de balões de São João e cenas em que “a carne” serve de riqueza no lugar de dinheiro para oferendas de um bruxo. Na precariedade, Reza a lenda se mostra até divertido.