'O regresso' traz performance marcante de Leonardo DiCaprio
Diretor Alejandro González Iñárritu volta a incomodar com temática forte e câmera pungente
Ricardo Daehn
Publicação:05/02/2016 07:00Atualização: 04/02/2016 15:30
Leonardo DiCaprio é o favorito ao Oscar pelo papel de Hugo Glass
Mexicano insuflado pela corporativa indústria do cinema, o cineasta Alejandro González Iñárritu coloca o dedo na ferida ao registrar, entre outros méritos do longa O regresso, a matança indiscriminada e as caóticas medidas que asseguraram domínio ianque sobre os indígenas. Protagonista absoluto, o desbravador Hugh Glass é interpretado por Leonardo DiCaprio, que conseguiu a quinta indicação ao Oscar pelo papel.
Entre emboscadas e campanas, DiCaprio é a razão de ser de O regresso, criado sob o efeito da grande angular do diretor de Fotografia Emmanuel Lubezki, dono de imagens arrebatadoras, abauladas e quase elípticas empregadas na exploração do inóspito começo do século 19.
Na ação dos desbravadores norte-americanos, Glass (DiCaprio) sofre uma traição dos colegas de ofício. Os traços e a arquitetura de uma vingança individual vazia se acumulam no filme. Com remorso, pesa a limitação física do protagonista imobilizado, ao ver testemunhar o assassinato do filho, sem poder reagir.
Tratando de temas comuns à obra dele, Iñárritu destrincha o amor paterno também presente em Biutiful, abarca inquietude espiritual e aposta em elementos simbólicos de um cinema no qual levitação e pássaros ganham espaço.
Pelo ritmo muito peculiar, que muitos verão como morto ou monótono, Iñárritu desenvolve um cinema de sondagem. Na intenção, dialoga com o filme de Terrence Malick O novo mundo, que dava corpo ao mito de Pocahontas. O regresso examina um símbolo de resistência e se assemelha com o tenente Dunbar de Kevin Costner, em Dança com lobos. O diferencial é que seu mergulho é profundo e muito obscuro, além de ser anterior, já que O regresso tem ação inserida 40 anos antes da Guerra Civil Americana representada na fita de Costner.
Bajulado na temporada de prêmios, Iñárritu segue na contramão da cartilha de Hollywood, sem apresentar um faroeste espetaculoso. Dejetos orgânicos, pele, sangue e um fluxo constante de água compõem o visual orquestrado pelo mesmo cineasta de Birdman.
Como uma carcaça, Hugh Glass (que existiu de verdade) se arrasta e murmura, assumindo a falta de medo de “quem já morreu”. O náufrago eternizado por Tom Hanks, nas telas, nem faz sombra ao sofrimento de DiCaprio, que, em cena, ganha arqui-inimigo perfeito, Tom Hardy (de Mad Max: Estrada da fúria), em exemplar composição, também indicado ao prêmio máximo de Hollywood.
Confira as sessões de O regresso aqui.