Violência movida a ódio marca novo filme de Robert Guédiguian
Massacre da população armênia pelos turcos em 1915 é tema do longa
O livro A bomba, de José Antonio Gurriarán, que deu origem ao filme Uma história de loucura, de Robert Guédiguian, teve publicação nos anos de 1980, quando se leva em conta o embrião secular que alimenta a trama do longa estrelado por Ariane Ascaride, Grégorie Leprince-Ringuet e Syrus Shahidi.
No filme, há fusão de temas caros ao cineasta: a esfera ampla e política — vista em A cidade está tranquila e O último Mitterrand — e o apetite pela violência — caso de Lady Jane, de 2008.
O quadro de tensão do enredo toma forma particular focando traços individuais de personagens, desde as circunstâncias iniciais que reproduzem aspectos do julgamento do armênio Soghomon Tehlirian (Robinson Stévenin). Ele matou, isento de culpa e por justiça, ainda nos anos de 1920, Tallat Pasha, figura fundamental para a ordenação do extermínio armênio pelo império otomano.
Passada a enfadonha, mas hábil em contextualização histórica, fase inicial do filme, em preto e branco, Guédiguian vai ao que interessa: o engajamento de Aram (Shahidi) na luta de ódio contra turcos, meio século após o genocídio facilitado por Pasha.
Relações humanas se desenvolvem e brota um fio de racionalidade no longa que trata ainda de migração, já que os familiares de Aram vivem em Marselha.
Distanciada da frieza, a direção passa a acentuar uma face de serenidade, mesmo que o filme apresente vítimas como o personagem de Grégorie Leprince-Ringuet, o jovem Gilles Teissier, atingido por rescaldo de ataque terrorista. Maduro, o roteiro é generoso com figuras conciliadoras como a maternal Anouch (Ariane Ascaride), que pretende redimir o filho Aram.