Porta dos Fundos estreia nos cinemas com 'Contrato vitalício'
A comédia conta com participação de Marília Gabriela e Sérgio Mallandro
"Um de nós está sempre na roubada do outro", sugestiona o personagem de Gregório Duvivier para o tipo desnorteado de Fabio Porchat, quase num alerta para a trama de Contrato vitalício. Gerido por muito tempo, natural que o longa do grupo Porta dos Fundos carregasse supra expectativa e que, infelizmente, não se confirma na telona.
O longa é genuíno, mas o desenvolvimento dos personagens inexiste, numa trama indecisa na montagem. Há pertinente e feroz crítica, em muitos âmbitos -- o que vem a, ousadamente, jogar contra a empatia do público que pode vir a se reconhecer (e quem sabe, desgostar). Talvez a mais incisiva metáfora esteja em, ao tratar dos bastidores de cinema nacional, mostrar um filme que patina, sem se formular -- a exemplo da comédia que não se concretiza, por um roteiro blocado.
Dilmemas e posicionamentos dos personagens não avançam. Na identidade do Porta, a piada meio sussurrada, ou aquelas em que os atores divertem-se com a impostação de voz sabotada, fica perdida na falta de entendimento (pela distância do microfone), especialmente no começo bem moroso da fita. O impasse do filme -- apostar em humor escrachado ou amenizar o tom -- está palpável já na trama em que dois parceiros do audiovisual (Porchat e Duvivier) investem a carreira no prestigiado terreno do Festival de Cannes.
Piadas grotescas encontram a graça infalível do timing de Duvivier e, mesmo óbvio, o personagem de Marcos Veras (um ativista da mídia multifacetada) é bem divertido. Num certo termo, os humoristas se aproximam da crônica humorada num andamento aos moldes de Hugo Carvana. Nisso, tomam conta da trama personagens como a idiotizada aspirante a celebridade (que não vive a vida, preferindo dar corda aos seguidores de mundo virtual) e o detetive que chafurda em passados (e apaga vidas), a cargo do excelente Antônio Tabet.
No que melhor exploram, os humoristas direcionam fofas farpas para Luciano Huck (um "pai ausente" que prefere "consertar carro de pobre") e para os rudimentares métodos de preparação de elenco (em citação imediata à Fátima Toledo) , com ferramentas de agressão canalizadas pelo ator Paulo, numa ótima dobradinha entre Júlia Rabello e Rafael Portugal.
Quem rouba a cena, no filme de bastidores, é o espalhafatoso tipo feito por Luis Lobianco (que capta a futilidade de muitos profissionais do meio artístico). Numa travessia difícil para o cinema, porém, a porta
fica apenas entreaberta. Muito mais eloquentes, os integrantes ficam é no computador, em que sempre nos pegam desprevenidos, sem pretensões embutidas numa telona de cinema.
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