'A lenda de Tarzan' mostra devoção à natureza e resgata aspectos clássicos
Novo filme do Rei da Selva não traz maiores desafios ao talento de Alexander Skarsgard
Ricardo Daehn
Publicação:22/07/2016 06:00Atualização: 21/07/2016 14:39
Romance entre Jane e Tarzan não decola na nova aventura
Num misto de aventuras à moda de Tudo por uma esmeralda (1984) e As minas do rei Salomão (1949), o mais recente filme de David Yates cumpre a promessa de uma sessão matutina, sem maiores efeitos — superada a carga de truques visuais, à mão do mesmo diretor que deu fim à saga de Harry Potter. Destacado como “filho preferido” da África onde teve como mãe uma macaca da imaginária espécie de gorilas magnani, o protagonista de A lenda de Tarzan não traz maiores desafios para o sueco Alexander Skarsgard (o Eric de True blood).
Em fins do século 19, já recolhido da criação selvagem, o lorde John Clayton (Skarsgard, na pele de um Tarzan retraído pelo impasse de viver rotina de grande cidade) se envolve num corre-corre que deriva de negociatas com exuberantes diamantes de Opar e avança sobre o senso de exploração de territórios coloniais africanos — no caso, do Congo Belga. Em princípio, no enredo pesa uma estética de embates assemelhados aos movimentos de 300, enquanto algo da pintura corporal faz lembrar imagens do mais novo Mad Max.
Até a entrada no roteiro da clássica tirada “Eu, Tarzan; você, Jane”, muita coisa cheira a tom solene. Levas de marfim são contabilizadas, em cena; há críticas à construção de pródigas igrejas e escolas para servirem colônias; e ecoam cantorias africanas, contemplando o tal (e esperado) espírito da selva. Rituais de acasalamento e algum erotismo tão logo encontram brecha, saem de cena, para alargar o alcance de filme pipoca.
Calmo e sorridente e se repetindo num papel vencido, Christoph Waltz reclama a identidade do belga Leon Rom, enquanto Samuel L. Jackson retoma a verve inspirada e constante, na pele do tipo que alerta Tarzan quanto ao potencial de exploração instaurado pelos brancos.
Sem paralelo com a literatura do americano Rice Burroughs, Margot Robbie tem pouca luz na fita, na pele de uma chata Jane, orgulhosa, comedida e respondona. Politicamente correto, o filme ao menos imprime a devoção à força da natureza e tem momentos divertidos, como o exagero que envolve um crucifixo.