“Professores não têm vida”, diz um dos alunos de O que está por vir, novo longa de Mia Hansen-Love. Bem resolvida, em meio à crise estudantil, a filósofa Nathalie (Isabelle Huppert, cada vez melhor) tem pleno controle e noção da existência. Tanto que, quando perde toda a sorte de estabilidade, com um amontoado de crises simultâneas, aparentemente não se deixa abalar.

 

Premiada com o Urso de Prata de melhor direção, no Festival de Berlim, Mia Hansen-Love conduz o longa de forma a contrastar valores carnais à satisfação mental. Na trama, André Marcon interpreta o marido infiel, enquanto o jovem Roman Kolinka dá vida a Fabien, um expoente de sensibilidade, como o aplicado ex-estudante dos ensinamentos de Nathalie.

 

 

 

Romance no ar? Há a possibilidade, mas pouco previsível, pelo roteiro maduro elaborado pela própria cineasta. Interessada em discutir a obsolescência do homem, a diretora conta um drama exemplar, em termos de lucidez. Em momentos de fina crítica, a realizadora contesta “agentes facilitadores” dos tempos atuais. A cena da proposta feita por um grupo editorial, de “modernizar”, com um texto “mais suave”, a produção literária de Nathalie é um achado.

 

 

Sem concessões, a diretora trata de liberdade, de um senso de coletividade e sublinha ainda valores de autonomia na terceira idade e de obras de autores como Jean-Jacques Rousseau e Woody Guthrie, músico que inspirou Bob Dylan. Cinema para adultos; sereno e com resultados estimulantes.