'A casa de veraneio' estreia com humor que foge ao óbvio
Produção franco-italiana aborda temas como abuso sexual e busca por direitos trabalhistas
Depois de Um castelo na Itália (2013), chega mais um multifacetado longa-metragem assinado pela atriz e diretora Valeria Bruni Tedeschi: a produção franco-italiana A casa de veraneio. Recheado de tonalidade pessoal — muitos eventos da vida real de Tedeschi aparecem, disfarçados na trama —, o longa traz um humor que foge do óbvio, e muitas vezes, desemboca em corrosão.
Ainda que apareça em eventuais cenas, Marcello (Stefano Cassetti), um parente morto, é uma das ausências mais sentidas, num círculo de endinheirados que se reúne na Riviera Francesa. Anna (Tedeschi) é a protagonista, uma cineasta sem muita inspiração, no recolhimento com a família, que alinha, entre outros, a matriarca vivida por Marisa Borini, a irmã de Anna (Valeria Golino, excepcional como sempre) e a filha adotiva de Anna, Celia (Oumy Bruni Garrel, integrante da família de Tedeschi, na vida real). Toma parte do enredo ainda o veterano Pierre Arditi (Vocês ainda não viram nada!), no papel do marido da personagem de Golino.
Entremeando toda a sorte de confusões possíveis que trazem de relatos de abusos sexuais a desaparecimentos, a comédia amarga é feliz ao abordar um levante de empregados explorados que reivindicam direitos. O problema, bem real, é que não há resposta dos patrões, entretidos em picuinhas.
Anna, entre muitas dores e doses de ironia, amarga a separação de Luca, papel de Riccardo Scamarcio. Sempre que tenta se descolar da bolha de falsa proteção da família, Anna encontra um impulso incômodo que a joga de volta. No círculo vicioso, a observação de Bruno (Bruno Raffaeli) é pertinente: há quem seja invisível, entre tanta superficialidade.