Pequi, rapadura e baru entram na composição de cerveja
As criações ajudam a dar uma identidade nacional ao produto
Certa vez, em um dia chuvoso num acampamento de caçadores-coletores, alguns grãos selvagens colhidos para alimentação acabaram caindo em uma poça de água, que esquentou. Naturalmente, os grãos começaram a fermentar, transformando a água em um líquido escuro e encorpado. A aparência chamou a atenção de algum integrante mais aventureiro do grupo, que resolveu provar a “bebida”. E, aparentemente, ele a aprovou. De acordo com alguns pesquisadores, foi assim que surgiram as técnicas de cervejaria. De lá para cá, os cervejeiros se tornaram mais ousados, acrescentando à receita dos homens das cavernas ingredientes especiais e, no mínimo, inusitados.
A lista de componentes inesperados não é modesta: pequi, açaí, chocolate e especiarias indianas. A ideia, dizem os produtores, não é imprimir na bebida o gosto desses ingredientes, mas utilizá-los para conferir a ela aroma e corpo especiais. “Até mesmo a de pequi é leve”, garante Fábio Caldas, mestre cervejeiro de Brasília e proprietário da cervejaria artesanal Käfer, que, em alemão, significa besouro. “Quem conhece a fruta, sabe que ela tá lá. Mas o foco, eu acho, não é fazer uma cerveja com aquele gosto, mas uma que tenha nuanças de sabor e aroma que confiram algum charme.”
Caldas e o chef Emerson Mantovani, do restaurante e empório Trio Gastronomia, criaram uma cerveja feita com o sumak, uma especiaria indiana. A receita foi concebida há mais ou menos dois anos, quando Mantovani propôs que os dois produzissem uma bebida com dry hope, que é a adição de mais lúpulo à fermentação.
O lúpulo é uma planta que confere o amargor à cerveja, além do aroma. Também atua como conservante natural e auxilia na formação da espuma. “Não sabemos de ninguém mais que use sumak na cerveja. Ele tem gosto cítrico e não altera a essência da bebida, mas mexe com o aroma, que fica mais intenso. É uma cerveja tipo ale, leve e refrescante”, detalha Mantovani.
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