Sabor exótico: Brasília também é capital da culinária árabe
Restaurantes árabes promovem uma gostosa invasão e se tornam cada vez mais comuns na cidade
A segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20 marcaram o primeiro fluxo migratório de sírios e libaneses para o Brasil. Junto da expectativa por melhores oportunidades, vieram ingredientes que tornam a culinária árabe uma das mais difundidas de norte a sul do país, o que se reflete na abertura corriqueira de casas da especialidade em Brasília.
“Existem dois tipos de influência do imigrante árabe na gastronomia: a direta, com receitas clássicas; e a indireta, com contribuição de pratos portugueses e espanhóis durante a colonização”, ressalta a socióloga da Universidade de Brasília Patricia El-moor, autora da tese Alimentação, memória e identidades árabes no Brasil.
As especiarias, elementos essenciais no preparo das receitas, como açafrão, cardamomo, cravo e zaatar, auxiliam na criação de identidade dos pratos de influência árabe.
“No Líbano, é possível saber a qual região uma pessoa pertence de acordo com o tempero utilizado”, afirma.
Para Lícia Cury, do empório árabe Marzuk, as especiarias têm papel fundamental na especialidade. “Algumas já são diretamente associadas à culinária árabe e são a alma das receitas”, destaca a empresária, que comanda o restaurante ao lado do marido descendente de sírios-libaneses, Paulo Henrique .
Saboreie cada parte dessa rica cozinha que inclui Líbano, Síria e Marrocos. Escolha a preferida e bom apetite!
O restaurante arabetto traz para a culinária árabe uma proposta diferente: aliar a cozinha ágil sem perder a qualidade. “A nossa comida é feita por árabe, o que é um diferencial, pois ela segue uma rica tradição”, afirma Adonis Massouh, sócio da rede que tem duas casas.
No cardápio, as saladas são um item essencial, com destaque para o fatush (R$ 16,90), feito com alface, tomate, pepino, cebola, salsa, hortelã, croutons de pão sírio e sumak. “É uma salada leve. O sumak tem um sabor refrescante e uma cor levemente roxa.”
Outra alternativa oferecida na casa são quibes e esfirras, pratos mais do que tradicionais dessa gastronomia.
Para quem vai apostar nas esfirras folheadas abertas (R$ 7,90), as alternativas de recheio são: queijo com shitake, queijo, carne, frango, ricota e as integrais de carne ou de queijo. No preparo fechado (R$ 6,50), os sabores são: carne ou espinafre.
A variedade entre os quibes é um ponto forte do Arabetto. “Temos quibe frito (R$ 6,90, a unidade) ou em uma versão petisco (R$ 19,90, porção com 16 unidades), cru, ou assado, que pode ser de carne, carne com queijo ou abóbora (R$ 12,90, cada um)”, orgulha-se Adonis.
A história dos dois bares que figuram entre os mais tradicionais da cidade tem um ponto em comum: a trajetória da família Marinho.
Um dos carros-chefes do Beirute, o kibeirute (R$ 9,30), quibe recheado com queijo muçarela e servido com molho tártaro, é bem parecido com o quibe libanus (R$ 15,90), servido na casa que o batiza — a diferença está no formato do Libanus, que lembra o de um coração.
“As duas casas têm um público cativo. Há famílias que já estão na quarta geração que frequentam os dois lugares. Eu mesma estou entre as pessoas que cresceram nesse ambiente”, destaca Isabela Marinho, filha de Narciso Marinho, fundador do Libanus.
Além do quibe, um quitute popular entre os frequentadores é a esfirra fechada nos sabores carne ou frango (R$ 7,50).
“As receitas de quibe são muito tradicionais. Tentamos ser o mais fiel possível à original”, destaca a proprietária.
Há 22 anos na Quituart, o Beit Kahama é um reduto para quem está à procura de um local despretensioso com menu de receitas clássica árabes. A proprietária, Lucilene Gomes, costuma dizer que preza pelo frescor e pela qualidade. Feito com grão-de-bico triturado, temperado e frito, o falafel (R$ 25) ganha destaque no rol de quitutes.
“Esse preparo não leva carne, o que já é um diferencial, mas o servimos ainda com uma salada de iogurte, tomate, salsa e cebola e com pão sírio”, explica a proprietária, que complementa: “Na Cisjordânia, o falafel é uma comida de rua. Lá ele é servido dentro do pão e coberto pela salada”. Além dos acompanhamentos, o prato é guarnecido com um molhinho de pimenta garupi e alho fritos e colocados no azeite.
Sobre a história do local, Lucilene se orgulha. “Dei o nome em homenagem aos meus três filhos. Beit significa casa, Kahama é a inicial de cada um deles”, explica a proprietária, que, quando inaugurou o restaurante, servia pirarucu de casaca, “mas acabei retirando do menu pela dificuldade de conseguir matéria-prima”.
Seham saadah e Reem Obied, mãe e filha, respectivamente, comandam as caçarolas no Arak. Fica por conta delas fazer os preparos tradicionalmente árabes que saem da cozinha para as mesas dos comensais. Seham conta que se surpreendeu com a aceitação das receitas pelo brasiliense.
“Nem imaginava que eles conhecessem alguns pratos, mas não só conhecem, como pedem por eles no menu”, brinca.
Uma das novidades é o menu executivo, com dois espetinhos de kafta acompanhados de tabule e batatas fritas, ou arroz com lentilha (R$ 40,90).
“Esse é um prato grande, a porção á para duas pessoas”, alerta. A opção do executivo vem ainda com michui de carne bovina (R$ 45,90) ou de frango (R$ 40,90), um espetinho árabe com cebola e pimentão.
Para beber, não poderia deixar de aparecer o arak, servido em uma taça com gelo a R$ 14,90. “É uma bebida forte, feita de uva e com aroma de anis. Para beber, ela deve ser diluída em gelo e água”, explica Seham.
Durante uma viagem ao Líbano para conhecer de perto as raízes da família, Dinorah Abrão observou a popularidade do shawarma — sanduíche de carne servido envolto em pão árabe — no país.
Ao lado do ex-marido, também descendente de libaneses, abriu em 2009 o Kebab in Brasília, próximo à Torre de TV. Na lanchonete, de aparência simples, saem três variações do quitute: carne bovina, frango e vegetariano (R$ 13,90).
Para acompanhar, a casa oferece dois tipos de molho de fabricação própria: a maionese de alho acompanha o de frango e tahine, feito com gergelim branco, aos que optam pelo shawarma de carne ou pelo vegetariano.
“Temperamos as carnes na véspera para atingirmos o máximo de sabor. Adicionamos um tempero que leva especiarias como canela, casca de romã e pimenta-do-reino”, revela a empresária.
A convite do embaixador da Jordânia em 1988, o marroquino Toufik Boutaher foi convidado a trabalhar na embaixada do país árabe em Brasília. Entre as tarefas, estava a de coordenar a cozinha de onde saíam exemplares da cozinha árabe.
Após se estabelecer definitivamente no país, o cozinheiro decidiu comercializar o sanduíche de kafta (R$ 12), disco de carne moída temperado com especiarias.
A iguaria é envolta em pão folha e servida com molho preparado com ketchup, maionese e azeitonas.
“Minha esposa disse que eu poderia aproveitar essa inclinação para a cozinha para vender kafta na cidade”, ressalta Boutaher, que vende o lanche desde 2008 no quiosque Estação do Marrocos e utiliza aproximadamente 150kg de carne por mês para preparar o prato.