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18/ABR/2025

Paulo Pestana comenta sobre o mundo da tecnologia; confira a Crônica da semana

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Paulo Pestana Publicação:14/11/2014 06:00Atualização:14/11/2014 12:32
 (Caio Gomez/CB/D.A Press)
Já reclamei disso aqui, mas, me perdoem, vou reclamar de novo. Parece que estamos definitivamente voltando ao tempo da comunicação por meio de sinais; não como na linguagem para surdos e mudos, legítima, necessária, estruturada. Bem mais no sentido das pinturas rupestres.

A culpa é do WhatsApp, esse aplicativo para telefone, que nasceu como uma coisa boa - como quase tudo, aliás - e virou esse inferno que não deixa ninguém ter uma conversa decente de mais de oito minutos. Aí encontramos a verdadeira origem do problema: a falta de educação das pessoas em lidar com a tecnologia.

Nada mais irritante do que quando você está no balcão de um estabelecimento, o telefone toca e lhe deixam de lado para atender. Você, corpo presente, é deixado para depois; o sujeito sem rosto do outro lado da linha é mais importante.

Hoje basta o telefone dar um clique que o sujeito vai seco ver o que é, não importa o teor da conversa que está tendo com você. O pior é que muitas vezes não tem nada; tem uns desenhozinhos apelidados de ícones - e onde foram parar os verdadeiros ícones, as imagens santas da igreja ortodoxa, hein?

É um retorno à parede das cavernas, aos hierógrifos, à linguagem totêmica, bonitinha, mas que revela o grau em que a humanidade pode chegar quando se trata de destruir suas próprias conquistas. São carinhas, bichinhos, bombinhas e sei lá mais o quê, todos aposentando palavras.

A barbárie não acaba aí. A falta de modos no WhatsApp transformou o telefone da gente numa porta de banheiro de rodoviária - tudo o que se encontrava ali antes de inventarem a fórmica e mais um bocado de indecência está agora no telefone. Depois de ler as mensagens é preciso lavar as mãos.

Estão ali as piadas do Joãozinho, gente pelada, atos que encheriam de cor as bochechas de Bocage, quadrinhas rimadas, frases soltas. Tudo o que a imaginação humana é capaz de conceber, para mostrar que, afinal, não somos tão diferentes dos chimpanzés, está lá.

Outro dia caí num grupo. Sim, tem isso: ninguém pergunta pra você se quer fazer parte de determinado grupo. O sujeito tem seu número e, pronto, está lá você, como estive eu, no meio de um bando de pescadores tarados - não necessariamente nessa ordem.

Começaram educados, trocando cumprimentos. Aos poucos, foram mostrando fotos, contando piadas e exagerando nas mentiras (são pescadores, afinal). Hoje só dá pra abrir a correspondência do grupo usando luva descartável.

Mas uma coisa me deixou pensando: de uns dias para cá eles deram para mostrar fotos de peixes capturados; um mais desafiador que o outro. Falaram das dificuldades para tirar uma pirarara do lago, das diferenças entre pescar num rio e no mar. Tudo certo.

Agora deram de medir os peixes - "o meu é maior", disse um. "O que é isso, rapaz, olha aqui o meu", respondeu outro. "O meu é maior ainda, só que não fotografei", disse mais um. Lembrei-me dos tempos de criança; só que a gente media outra coisa.

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