Brasília-DF,
27/ABR/2025

A alegria de Paul McCartney com a vida pelos palcos do Brasil e do mundo

Mesmo em um dia de chuva o ex-beatle contagia o público com sua simpatia

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Paulo Pestana Publicação:05/12/2014 06:00Atualização:04/12/2014 12:11


Paul McCartney em show no dia 23 de outubro, no Estádio Mané Garrincha (Minervino Junior/CB/D.A Press)
Paul McCartney em show no dia 23 de outubro, no Estádio Mané Garrincha
O assunto já é quase do século passado, mas não consigo deixar de pensar: desde o fim da apresentação de Paul McCartney na cidade fico me perguntando o que aquele senhorzinho estava fazendo ali. Estávamos diante de um baronete do império britânico, vestido numa jaqueta vermelha, que pulava para todo lado, revezando instrumentos era fácil saber por que dezenas de milhares de pessoas saíram de casa naquela noite chuvosa de domingo — sabendo que o dia seguinte era no batente. E garanto que todos chegaram cedo. Afinal, não bastava vê-lo; era preciso contar.

Alguns ali procuravam — e encontraram — a fonte sonhada por Ponce de León, que prometia a volta da juventude; outros eram curiosos e havia fãs, uma penca deles. Enfim, motivações várias. Mas qual força move um homem que tem o mundo a seus pés para viajar milhares de milhas; um sujeito que está entre os mais ricos do planeta e que, ainda por cima, tem uma criança pequena em casa para cuidar?


E mais: para tocar canções que fez aos 20 anos de idade e que não ficariam bem na boca de outro setentão: “Bem, ela só tinha 17 anos, você sabe o que quero dizer; a beleza dela não se compara. Como poderia dançar com outra, quando a vi parada lá?”. Cabem acusações sérias, aí, não?

Musicalmente, ele também é outro: autor de peças eruditas belíssimas — Ecce Cor Meum, tem um brilho único —, de canções sem intenções comerciais (no duo The Fireman), de experiências eletrônicas radicais (Liverpool Sound Collage) e de sofisticações raras na música popular.

Foi quando eu virei o giglê e desliguei o cérebro. Não havia uma explicação racional. E quando vi a transmissão do show paulista pela tevê tudo ficou claro a partir do brilho dos olhos do músico em close; havia ali uma alegria autêntica em repartir aquele momento com as pessoas e recolher a energia que voltava para ele de forma tão positiva.

Essa força explica o respeito que ele tem pelas pessoas que vão vê-lo, a ponto de cantar músicas datadas, até pueris, mas mantendo o espírito juvenil e até mesmo teatralidades que ultrapassam o senso meramente profissional.

McCartney parece estar no palco para nos mostrar que a vida se oferece para todos, senão com a mesma intensidade, pelo menos com oportunidades iguais. É uma estranha injeção de otimismo, um antídoto ao cinismo, que traz perspectivas novas a todos — a tal ponto de um velho amigo, carnívoro desde os tempos do T. Rex, o bicho, não a banda pensar em diminuir o número de bifes.

Só que a lição de McCartney vai além da abstinência de proteína animal no estômago. Ele experimentou o melhor e o pior que a vida pode oferecer — desde a conquista do mundo até a impotência diante de um câncer devastador que levou a mulher. E foi em frente. Sofreu tombos, deu voltas por cima. E vai levando. Com orgulho do que é, mas sem se levar tão a sério, mantendo o pique, dividindo seu mundo. Generosamente.

Tags: celular

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