Brasília-DF,
27/ABR/2025

Crônica da semana destaca semelhança de roteiro entre Chaves e Cantinflas

Do Chapolin Colorado, outro personagem de Bolaños, sei ainda menos; nunca vi um episódio inteiro sequer

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Paulo Pestana Publicação:26/12/2014 06:55
Eu nunca entendi o fascínio exercido pelo Chaves — o personagem de calças curtas de Roberto Bolaños, claro. Do outro, entendia menos ainda. Não sei de onde apareceu o objeto de culto ao “seu” Madruga e ao Quico. Do Chapolin Colorado, outro personagem de Bolaños, sei ainda menos; nunca vi um episódio inteiro sequer.

Talvez por isso não tenha participado da comoção pós-morte do comediante mexicano e deixei o tempo passar.

Acredito que me sobram cabelos brancos para gostar do Chaves. Em compensação, eles são suficientemente fartos para me lembrar de Cantinflas, que, na minha modesta opinião, foi o personagem em quem Bolaños se inspirou para criar aquela criança grande que mora numa lata de lixo.

As tiradas verbais do Chaves — recheadas de absurdos e contradições — eram imitações baratas e bem menos surreais que a vertigem oral provocada por Cantinflas, mestre na retórica da confusão, na qual só encontrava rival em Grouxo Marx. Com as calças permanentemente arriadas, seguras por uma corda, e um cigarro na mão, era uma metralhadora verbal.

Para quem não está ligando o nome à pessoa, passou a jato em Brasília o filme que conta a história do maior comediante que o México produziu. Mario Moreno, seu nome, foi um ator que rompeu fronteiras, ganhou um Globo de Ouro e voltou para sua gente, dispensando o sucesso em Hollywood.

Cantinflas, o filme, não é essa cocada toda — embora esteja disputando o Oscar de produção estrangeira —, mas presta uma bela homenagem a um artista que começou nos teatros de lona — depois de tentar ser boxeador e toureiro — e transformou-se na maior estrela da América Latina e Espanha. Ao filme falta exatamente o ritmo que o comediante empregou em suas mais de 50 produções.

O diretor Sebastián Del Amo optou por acompanhar a caçada do produtor Michael Todd às estrelas da época para que participassem do filme Volta ao mundo em 80 dias. Entre essas estrelas estava Cantinflas, de quem Todd — até então produtor de teatro — nunca ouvira falar.

Se Del Amo escorrega, o ator Oscar Jaenada praticamente incorpora o comediante. Não surpreende. O catalão tem um belo currículo e até sucesso popular depois de viver o Espanhol, um dos ranas de Piratas do Caribe.

Mas o melhor de Cantinflas está mesmo nos filmes dele — sempre com o mesmo personagem. Os três mosqueteiros, Um Quixote sem mancha, O supersábio; a lista é longa. E quase todos estão disponíveis no YouTube.

A outra aventura hollywodiana de Moreno, Pepe, não funcionou muito bem. Ainda assim, Chaplin dizia que Cantinflas era o comediante mais querido do mundo em sua época. Acredite.

Cômicos são seres eternos. A insistência em se manter fiel a um único papel durante toda a carreira — como o Carlitos de Chaplin, o Jeca de Mazzaroppi, o Monsieur Hulot de Tati — pode explicar esta relação com o público, criando um laço impossível de ser alcançado com personagens transitórios.

Um momento de tristeza a gente até esquece, mas uma gargalhada é para sempre. É uma ação ruminante, perene. Devo muitas gargalhadas a Cantinflas.

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