Cronista comenta a relação entre cultura e política no Brasil
Colunista engloba a forma de governo e os acontecimentos no Ministério da Cultura
Paulo Pestana
Publicação:16/01/2015 06:01Atualização: 15/01/2015 14:20
O bate-boca em torno da nova posse de Juca Ferreira no Ministério da Cultura é um bom termômetro para medir como as políticas públicas são administradas no país. A ex-ministra Marta Suplicy disparou um míssil pela rede; outra ex, Anna de Holanda, mandou mais um petardo; e um terceiro ex, Gilberto Gil, tentou interceptar os torpedos.
É bom lembrar que são farinha do mesmo saco: que vêm dando as diretrizes culturais para o Brasil há 12 anos; mesma turma que vai ficar mais quatro. O prazo é mais do que suficiente para que o Brasil tenha uma política pública de Estado para a cultura, correto, cidadão? Nada disso. A cultura brasileira está como sempre, há mais de 500 anos.
À primeira vista, é apenas mais um caso em que o capeta da vaidade agiu. É mais grave. E o reflexo está aí: o que é o cinema nacional hoje, além de uma extensão da programação da tevê? E a literatura, agora dependente de celebridades - Chico Buarque, Fernanda Torres, Maitê Proença - para ficar nos melhores? A música popular não é aquela miscelânea chacrineana que Regina Casé apresenta na TV. Poesia? Como assim?
A cultura é apenas mais uma vítima da tal marca administrativa que cada titular sonha deixar como passaporte para a história. Uma discussão não personalizada e não ideológica faria bem ao país em busca de interesses comuns. Mas, de novo, a vaidade não deixa e temos, hoje, os mesmos problemas de ontem, que se repetirão amanhã.
O que o país precisa é de produção cultural de qualidade e menos direcionamento. Os pontos culturais tão alardeados são um retumbante fracasso - servem apenas como política social, de combate ao ócio, enquanto a saída está na educação, na formação de cabeças que possam ser inoculadas com técnicas a serem desenvolvidas.
A presidente anunciou que estamos, agora, na era da "pátria educadora”, seja o que for que isso queira dizer, além de um mote de marketing para desviar o assunto incômodo. Resta torcer para que desta vez não se restrinja a educação a um único ministério, mas que seja um conceito para todas as áreas de ação do governo.
Bem no início dos anos 1970 chegava às bancas um jornalzinho chamado Grilo, só com cartoons e quadrinhos - virou revista e durou quatro anos. Era impresso em papel jornal e num sistema de cores inovador, aleatório, que não respeitava os limites dos desenhos e dava um jeitão psicodélico às páginas. Foi a primeira vez que ouvi falar, entre muitos outros, em Wolinski; na verdade, estava de olho em Paulette, personagem sensual e cheia de curvas do cartunista - de uma ousadia que, menor de idade, me obrigava a esconder a revista no fundo do armário (ah, se a mãe pega!). Os canalhas mataram Paulette a tiros.
É bom lembrar que são farinha do mesmo saco: que vêm dando as diretrizes culturais para o Brasil há 12 anos; mesma turma que vai ficar mais quatro. O prazo é mais do que suficiente para que o Brasil tenha uma política pública de Estado para a cultura, correto, cidadão? Nada disso. A cultura brasileira está como sempre, há mais de 500 anos.
À primeira vista, é apenas mais um caso em que o capeta da vaidade agiu. É mais grave. E o reflexo está aí: o que é o cinema nacional hoje, além de uma extensão da programação da tevê? E a literatura, agora dependente de celebridades - Chico Buarque, Fernanda Torres, Maitê Proença - para ficar nos melhores? A música popular não é aquela miscelânea chacrineana que Regina Casé apresenta na TV. Poesia? Como assim?
A cultura é apenas mais uma vítima da tal marca administrativa que cada titular sonha deixar como passaporte para a história. Uma discussão não personalizada e não ideológica faria bem ao país em busca de interesses comuns. Mas, de novo, a vaidade não deixa e temos, hoje, os mesmos problemas de ontem, que se repetirão amanhã.
O que o país precisa é de produção cultural de qualidade e menos direcionamento. Os pontos culturais tão alardeados são um retumbante fracasso - servem apenas como política social, de combate ao ócio, enquanto a saída está na educação, na formação de cabeças que possam ser inoculadas com técnicas a serem desenvolvidas.
Saiba mais...
Chega de geração espontânea. Excepcionalidades acontecem independentemente de política pública. Precisamos é de escolas de verdade, de formação, de mestres, de artistas que sejam preparados em academias formais de audiovisual, literatura, música. Chega de artistas amadores.A presidente anunciou que estamos, agora, na era da "pátria educadora”, seja o que for que isso queira dizer, além de um mote de marketing para desviar o assunto incômodo. Resta torcer para que desta vez não se restrinja a educação a um único ministério, mas que seja um conceito para todas as áreas de ação do governo.
Bem no início dos anos 1970 chegava às bancas um jornalzinho chamado Grilo, só com cartoons e quadrinhos - virou revista e durou quatro anos. Era impresso em papel jornal e num sistema de cores inovador, aleatório, que não respeitava os limites dos desenhos e dava um jeitão psicodélico às páginas. Foi a primeira vez que ouvi falar, entre muitos outros, em Wolinski; na verdade, estava de olho em Paulette, personagem sensual e cheia de curvas do cartunista - de uma ousadia que, menor de idade, me obrigava a esconder a revista no fundo do armário (ah, se a mãe pega!). Os canalhas mataram Paulette a tiros.