Cronista comenta o início e a trajetória da cidade de Taguatinga; confira
Das construções ao eventos culturais; relembre os momentos da cidade
Paulo Pestana
Publicação:30/01/2015 07:00
[FOTO1]A história começou quando Taguatinga ainda era uma cidade satélite. Havia um punhado de casas, algum comércio e tão poucos bares que o pessoal mais descolado tinha que azarar as mocinhas e tomar cerveja no Nene's Chopp, que ficava no posto da saída da cidade. E as tardes eram gastas nas matas próximas, caçando uma galinha fujona ou uma codorna que fosse, onde hoje existe o paliteiro de prédios que é Águas Claras.
A cidade dormitório só acordou quando um pessoal resolveu fazer barulho. E que barulho. Na entrada da cidade, à direita de quem chegava, foi instalado o Teatro Rolla Pedra. Instalações modestas, mas espaço suficiente para transformar a vida de uma cidade que não queria mais ser apresentada como um apêndice.
Zé Fernandez, que ensinava os pontos cardeais nas escolas, colocou Taguatinga no mapa, ao lado de José Maria, outro professor, e de Marco A, que futuramente ganharia patente como um dos 5 Generais, banda pós-punk, algo gótica, que marcou época.
O Rolla Pedra era, literalmente, um espaço aberto. Durante o dia, as bandas usavam o lugar para ensaios; à noite, todo gato era pardo: teatro, música, vernissage, tertúlia, literatura, mas principalmente, muito rock. A cena punk ainda fervia nos idos de 1984.
A Legião Urbana tocou lá - ou melhor, eram só Renato Russo e Bonfá; Plebe Rude, Capital Inicial, Finis Africae, Banda 69, Elite Sofisticada... Enfim, quem tivesse uma guitarra na mão era bem-vindo. O Detrito Federal praticamente nasceu no Rolla Pedra. PC Cascão, na época um sem-rolex, ainda era baterista, mas também fazia bicos como roadie e técnico de som para outras bandas e eventos.
Aconteceu o impensável nos dois anos de funcionamento do teatro: o Rolla Pedra inverteu o fluxo do trânsito. A EPTG foi tomada por gente que nem sabia onde ficava Taguatinga. Para muitos foi um deslumbramento; como o menino, já crescido, que é apresentado a uma galinha e pergunta se ela tem dentes.
Taguatinga tinha dentes. E eles estavam escancarados. Era uma moçada radical pra valer, sem as maquiagens pesadas e falsas asas de corvo que os frequentadores do Gotham City, na Asa Norte, usavam; sem as poses que pseudo dândis e punks de butique ensaiavam.
O Rolla Pedra canalizou a energia criativa da cidade e arredores. Nada que era inovador foi desprezado pelos democráticos proprietários. Aliás, fechar a pauta do teatro era um exercício caótico, quase como montar um quebra-cabeças, pois nada era recusado; para tudo e para todos havia um lugar.
Vencida a desconfiança inicial - Taguatinga era longe; Vicente Pires só abrigava chácaras - todos queriam se apresentar por lá. Era um bunker da cultura alternativa.
A história de Taguatinga não pode ser contada sem o Rolla Pedra. Hoje a cidade é uma potência econômica, tem vida própria e dirige seus caminhos. Mas a cultura anda à deriva, não se tem notícia do que é feito, e a manifestação mais recente foi um rolezinho de fãs do... Justin Bieber. Vejam só se é possível.
A cidade dormitório só acordou quando um pessoal resolveu fazer barulho. E que barulho. Na entrada da cidade, à direita de quem chegava, foi instalado o Teatro Rolla Pedra. Instalações modestas, mas espaço suficiente para transformar a vida de uma cidade que não queria mais ser apresentada como um apêndice.
Zé Fernandez, que ensinava os pontos cardeais nas escolas, colocou Taguatinga no mapa, ao lado de José Maria, outro professor, e de Marco A, que futuramente ganharia patente como um dos 5 Generais, banda pós-punk, algo gótica, que marcou época.
O Rolla Pedra era, literalmente, um espaço aberto. Durante o dia, as bandas usavam o lugar para ensaios; à noite, todo gato era pardo: teatro, música, vernissage, tertúlia, literatura, mas principalmente, muito rock. A cena punk ainda fervia nos idos de 1984.
A Legião Urbana tocou lá - ou melhor, eram só Renato Russo e Bonfá; Plebe Rude, Capital Inicial, Finis Africae, Banda 69, Elite Sofisticada... Enfim, quem tivesse uma guitarra na mão era bem-vindo. O Detrito Federal praticamente nasceu no Rolla Pedra. PC Cascão, na época um sem-rolex, ainda era baterista, mas também fazia bicos como roadie e técnico de som para outras bandas e eventos.
Aconteceu o impensável nos dois anos de funcionamento do teatro: o Rolla Pedra inverteu o fluxo do trânsito. A EPTG foi tomada por gente que nem sabia onde ficava Taguatinga. Para muitos foi um deslumbramento; como o menino, já crescido, que é apresentado a uma galinha e pergunta se ela tem dentes.
Taguatinga tinha dentes. E eles estavam escancarados. Era uma moçada radical pra valer, sem as maquiagens pesadas e falsas asas de corvo que os frequentadores do Gotham City, na Asa Norte, usavam; sem as poses que pseudo dândis e punks de butique ensaiavam.
O Rolla Pedra canalizou a energia criativa da cidade e arredores. Nada que era inovador foi desprezado pelos democráticos proprietários. Aliás, fechar a pauta do teatro era um exercício caótico, quase como montar um quebra-cabeças, pois nada era recusado; para tudo e para todos havia um lugar.
Vencida a desconfiança inicial - Taguatinga era longe; Vicente Pires só abrigava chácaras - todos queriam se apresentar por lá. Era um bunker da cultura alternativa.
A história de Taguatinga não pode ser contada sem o Rolla Pedra. Hoje a cidade é uma potência econômica, tem vida própria e dirige seus caminhos. Mas a cultura anda à deriva, não se tem notícia do que é feito, e a manifestação mais recente foi um rolezinho de fãs do... Justin Bieber. Vejam só se é possível.