Brasília-DF,
24/ABR/2024

Cronista comenta os mascates da cultura; leia a Crônica da semana

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Paulo Pestana Publicação:10/04/2015 10:22Atualização:14/05/2015 15:45
 (ArteCB/DA Press)
Clodo está com tudo pronto para mostrar um disco de canções inéditas; vai vender na porta dos shows, contar com os amigos e o boca a boca. Alexandre Ribondi está com livro novo na praça; vai pelo mesmo caminho, oferecendo aqui e ali. Gláucia Foley já lançou seu disco de sambas há algum tempo, mas, por mais que tenha se esforçado, ainda tem exemplares em casa a espera de quem queira ouvir suas delicadas interpretações.

Artistas mais ou menos conhecidos passam pela mesma situação. E nunca se produziu tanto: todo dia tem alguém mostrando uma obra nova e iniciando um desgastante e pouco produtivo ciclo de mascate cultural. Afinal, o sentido de fazer alguma coisa é mostrá-la.

Por mais que os meios eletrônicos facilitem a vida de quem produz cultura, o espaço virtual não é suficiente - é faneco, etéreo demais, meio fantasmagórico por vezes. Não se trata apenas do fetiche do objeto, mas não se despreza um dos sentidos humanos desta maneira; e ali o tato não tem vez.

Desde bebês precisamos pegar nas coisas; agarrar um dedo, apertar o seio, sentir com as mãos. E ainda tem o faro. Fomos educados a cheirar para saber se alguma coisa pode ser comida, bebida, consumida.

Não é uma contramão. Fazer o download de um livro, filme ou disco é simples, mas - pelo menos ainda - é uma ação insatisfatória, tanto para quem compra quanto para quem vende. A música toca, a página aparece cheia de letrinhas, o filme roda. Mas nada sacia. É preciso ocupar espaço, ter a obra nas mãos, para que o produto cultural se materialize.

E ao mesmo tempo em que é cada vez mais fácil e barato gravar um disco, é cada vez mais difícil colocá-lo no mercado. Eu mesmo passei um bom tempo até encontrar o disco Dois Compassos, de Marcelo Guima e Délcio Carvalho. Foi preciso encomendar a um amigo que estava passando por outra cidade e tivesse paciência para achar o endereço.

A produção intelectual em Brasília é muito grande. Pode ser por causa da seca ou das tempestades, não sei; mas algum motivo leva as pessoas a escrever, compor e filmar muito e permanentemente. Brasília é uma cidade que se abre ao delírio. E quem produz, cedo ou tarde, sente a necessidade de abrir as comportas.

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