Saiba quem representa a música em pessoa
Conheça um compositor brasileiro que é referência no País e no exterior
Paulo Pestana
Publicação:09/10/2015 11:33
Não é todo dia que a gente encontra a música em forma de gente. O cenário era uma mesa sob uma árvore no café do Daniel Briand, onde eu escrevia umas linhas; Ivanilton chegou. Qualquer um que não tenha problemas auditivos já ouviu e certamente cantarolou pelo menos uma das suas 1.420 canções gravadas em diversas línguas — e ele anda tem 600 músicas prontas na gaveta.
Ivanilton, que estava com o exímio guitarrista Tiãozinho Rodrigues, é provavelmente o compositor brasileiro mais gravado no exterior, para horror dos obtusos. E são números em progresso: “Componho todo dia”, garante. “E normalmente faz mais de uma música por dia”, alerta a mulher, Analye Lima, cantora gospel, também ali, tentando resistir às tortas na vitrine.
Esses momentos fazem o tempo retroceder. E a conversa vira música. Ele, que já esteve na mesma mesa de Barack Obama, se lembra de tempos bem mais magros, antes de 1976, quando Ivanilton foi rebatizado como Michael Sullivan (ou Porquinho, para os chegados).
Já era artista, mas só cantava músicas dos outros, preferencialmente em bailes. Mas naquele ano ele começou a compor; fez músicas em inglês, na onda de cantores brasileiros que cantavam em língua estrangeira.
A música era para outro artista, mas quando ele fez a voz guia, a gravação de My Life ficou tão bom que virou disco; o novo nome foi encontrado numa lista telefônica de Nova York e ele vendeu seu primeiro milhão de discos. Gravou mais coisas em inglês, mas logo voltou à língua que aprendeu em Pernambuco e aos bailes da vida.
E fez sucesso em vozes alheias: Tim Maia, Gal Costa, Simone, Roberto Carlos, Fagner, Alcione, Fafá de Belém; difícil encontrar algum cantor relevante que não tenha gravado uma música dele. Frequentou paradas de sucessos de 60 países. Só que isso é passado: Sullivan, olhando Brasília, prefere falar do novo.
Depois de cauterizar uma profícua parceria com Carlinhos Brown no disco Pernamblack, deu voz a uma série de jovens artistas cariocas instalando um estúdio no morro do Borel. E lançou a hoje cultuada Alice Caymmi, a quem conheceu ainda menina, quando produziu um dos discos do pai dela, Danilo — Mistura Brasileira.
A relação com a família Caymmi, aliás, foi abençoada pelo patriarca, Dorival, quando comparou Sullivan si próprio: “Como eu, ele sabe o endereço do povo”, disse. E continua: ele acabou de entregar a música Dor em arlequim para Nana Caymmi gravar.
Agora mesmo está trabalhando com a moderninha Marília Bessy — está produzindo uma versão de Eu dei (“O que foi que você deu, meu bem?”), imortalizada por Carmen Miranda, com ela e MC Catra. Também acaba de finalizar nova parceria com Martinho da Vila, Meu deleite, e fez a bossa Doce cabana, com Brown, gravada com Roberto Menescal.
Sullivan tem um estúdio em casa e uma gravadora no quintal, mesmo num momento tão ruim para a indústria fonográfica brasileira, quando até mesmo a pirataria faliu. Mas a fé na música brasileira continua. E o motivo é simples: “Não há no mundo nada igual ao músico brasileiro”, diz ele.
Não é todo dia que a gente encontra a música em forma de gente. O cenário era uma mesa sob uma árvore no café do Daniel Briand, onde eu escrevia umas linhas; Ivanilton chegou. Qualquer um que não tenha problemas auditivos já ouviu e certamente cantarolou pelo menos uma das suas 1.420 canções gravadas em diversas línguas — e ele anda tem 600 músicas prontas na gaveta.
Ivanilton, que estava com o exímio guitarrista Tiãozinho Rodrigues, é provavelmente o compositor brasileiro mais gravado no exterior, para horror dos obtusos. E são números em progresso: “Componho todo dia”, garante. “E normalmente faz mais de uma música por dia”, alerta a mulher, Analye Lima, cantora gospel, também ali, tentando resistir às tortas na vitrine.
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Esses momentos fazem o tempo retroceder. E a conversa vira música. Ele, que já esteve na mesma mesa de Barack Obama, se lembra de tempos bem mais magros, antes de 1976, quando Ivanilton foi rebatizado como Michael Sullivan (ou Porquinho, para os chegados).
Já era artista, mas só cantava músicas dos outros, preferencialmente em bailes. Mas naquele ano ele começou a compor; fez músicas em inglês, na onda de cantores brasileiros que cantavam em língua estrangeira.
A música era para outro artista, mas quando ele fez a voz guia, a gravação de My Life ficou tão bom que virou disco; o novo nome foi encontrado numa lista telefônica de Nova York e ele vendeu seu primeiro milhão de discos. Gravou mais coisas em inglês, mas logo voltou à língua que aprendeu em Pernambuco e aos bailes da vida.
E fez sucesso em vozes alheias: Tim Maia, Gal Costa, Simone, Roberto Carlos, Fagner, Alcione, Fafá de Belém; difícil encontrar algum cantor relevante que não tenha gravado uma música dele. Frequentou paradas de sucessos de 60 países. Só que isso é passado: Sullivan, olhando Brasília, prefere falar do novo.
Depois de cauterizar uma profícua parceria com Carlinhos Brown no disco Pernamblack, deu voz a uma série de jovens artistas cariocas instalando um estúdio no morro do Borel. E lançou a hoje cultuada Alice Caymmi, a quem conheceu ainda menina, quando produziu um dos discos do pai dela, Danilo — Mistura Brasileira.
A relação com a família Caymmi, aliás, foi abençoada pelo patriarca, Dorival, quando comparou Sullivan si próprio: “Como eu, ele sabe o endereço do povo”, disse. E continua: ele acabou de entregar a música Dor em arlequim para Nana Caymmi gravar.
Agora mesmo está trabalhando com a moderninha Marília Bessy — está produzindo uma versão de Eu dei (“O que foi que você deu, meu bem?”), imortalizada por Carmen Miranda, com ela e MC Catra. Também acaba de finalizar nova parceria com Martinho da Vila, Meu deleite, e fez a bossa Doce cabana, com Brown, gravada com Roberto Menescal.
Sullivan tem um estúdio em casa e uma gravadora no quintal, mesmo num momento tão ruim para a indústria fonográfica brasileira, quando até mesmo a pirataria faliu. Mas a fé na música brasileira continua. E o motivo é simples: “Não há no mundo nada igual ao músico brasileiro”, diz ele.