Crônoca da semana, Paulo Pestana escreve sobre a mulher
O físico Stephen Hawkins é um dos cérebros mais brilhantes dos nossos tempos. Vem abrindo infinitas possibilidades para explicar como funciona a natureza, propõe que o Universo não precisou de um impulso divino para ser criado, mas que é produto de si mesmo, e dedica a vida a procurar uma equação que explique todos os fenômenos da natureza.
Hawkins é, assim, um homem que convive com o desconhecido. Ultimamente, para se ter uma ideia, ele tem se envolvido com questões éticas e práticas da inteligência artificial. Com tudo isso na cabeça, houve quem quisesse saber dele qual é o maior mistério do Universo. Preso em sua cadeira de rodas, onde enfrenta a esclerose lateral amiotrófica, e falando por meio de um computador, ele esqueceu a imensidão e não titubeou:
— As mulheres.
Eu, que não sei nem achar a estrela polar e mal reconheço as fases da Lua, fico calado, mas não há como deixar de dar razão ao físico britânico. E me ficam ecoando no fundo da cabeça frases que gente muito mais inteligente que eu disse ou escreveu sobre elas.
“Entre o sim e o não de uma mulher, não me atrevo a espetar um alfinete”, disse o espanhol Miguel de Cervantes, num momento Sancho Pança. “Deus fez as mulheres belas. O diabo as fez espertas”, narrou o ucraniano Leonid S. Sukhorukov. “Existem duas maneiras de lidar com uma mulher e ninguém as conhece”, escreveu o norte-americano Kin Hubbard. “As mulheres existem para que as amemos, e não para que as compreendamos”, disse o irlandês Oscar Wilde.
Entre todos esses pensadores de cantos distantes, me veio uma definição mais próxima, do Divino: “Mulher só serve pra duas coisas: pra encher o saco e pra fazer falta”. Não sei bem se é um elogio, desconfio que não, mas a conclusão é uma só: homem nenhum sabe o que fazer com as mulheres; mesmo os mais sábios de nós continuam atordoados, desde que os homens abandonaram a mania de arrastar as mulheres pelos cabelos.
“Elas choram”, me explicou outro dia o Waldirzão, um patrasana de queixo nhato, na feijoada do Amigão. Disputando os poucos rabos da cumbuca, ele desfiou a teoria de que os homens não conseguem entender as mulheres por causa das lágrimas. Eu retruquei o simplismo do Waldirzão, advogado trabalhista, que deve ter tido alguma experiência mais amarga no currículo. Mas ele insistiu: “Choro desmonta a gente”.
Jacaré, também advogado, também procurando um rabo de porco, esperou que a pequena balbúrdia de opiniões se arrefecesse e, com entonação de Yoda, vaticinou: “Os homens nunca vão entender as mulheres porque elas nunca vão deixar; elas são mais inteligentes que nós. Elas são a evolução da raça humana”.
Se ele tem razão não sei, mas ficou todo mundo calado. Pediu-se mais farinha e a conversa foi para outro lado. Eu era neófito naquela turma, procurava me equilibrar nas conversas e tinha uma postura mais assisada; estranhei a mudança de rumo da prosa, mas fiquei quieto. Mas devo ter dado bandeira. Ciro, mais próximo do pessoal, me cochichou o que parecia ser, perdoem o paradoxo, um segredo coletivo: “Liga não, o Jacaré está apaixonado”.
“Os homens nunca vão entender as mulheres porque elas nunca vão deixar; elas são mais inteligentes que nós”