Na crônica da semana, Paulo Pestana vai em busca do sexo perdido
Paloma Oliveto - Enviada Especial
Publicação:13/11/2015 06:56
A moça interessou-se logo quando soube pela rede social que haveria um workshop tântrico em São Jorge, aqui pertinho, na Chapada dos Veadeiros. Eu estranharia; não pela proposta erótica, mas pelo workshop, porque tenho implicância com o uso de expressões em inglês quando temos correspondentes muito bacaninhas em português. Ou será que oficina tântrica não daria a importância internacional que um evento como este merece? Ou colóquio — existe palavra mais erótica do que esta, independentemente do significado pueril? E tertúlia? Bom também; talvez muito romântico.
Resumindo: haveria um encontro tântrico nas águas e matas imaculadas da chapada e a moça precisava ir. Queria descobrir por que, de repente, perdera o interesse pelo sexo; logo ela que, embora tenha aprendido tardiamente sobre os prazeres carnais, atingiu com ele, segundo diz, uma mística transcendência sensorial — nesse ponto, no entanto, eu divirjo: sempre achei que era mesmo uma tendência para a fuleragem pura e simples (o que é bom também e dispensa desculpas moralistas).
Na véspera da viagem, ela teve um sonho estranho; estava nua, no meio de dezenas pessoas, todas em pelo, andando pela superfície do vale da lua, quando foram pegos por uma tromba d’água. Acordou assustada, antes de ver o resultado da inundação. Não dormiu mais. Imaginava que a água corrente era o pecado que lavava ou — no pior cenário — afogava a luxúria e a calaça. Mas não se deixou abater pela quiromancia. No dia seguinte, foi ao encontro da amiga que, com ela, iria ao convescote erótico de autoconhecimento.
A mestre de cerimônias começou a falar antes mesmo que as malas fossem deixadas nos quartos da pousada. Se a filosofia original do Tantra leva à espontaneidade e naturalidade, ela demonstrava o óbvio nervosismo da primeira vez, diante de moças e casais — não havia homens solitários ali. E a mestre falava em alquimia tântrica, êxtase, sexualidade sagrada; vestia o sexo com o véu da moralidade mística, em que o desejo obedecia a um desígnio superior.
A moça era inteligente e culta, mas nunca havia ouvido falar em habilidade háptica, termo que foi repetido algumas vezes como fundamento do aprendizado. Se estivesse no Barril 66, no Riacho Fundo, poderia ser traduzido como pegação pura e simples; e aí ela entenderia de primeira. Ainda assim aquele ambiente deixava a moça cada vez mais segura para explorar sensações e, na medida em que experiências eram desenvolvidas, mais soltinha ficava. A amiga que estava com ela era apenas uma curiosa. Sexualmente resolvida, era bem mais pragmática. Engenheira, também ali canalizava todo o conhecimento cartesiano.
As duas não eram um casal, como exigia a inscrição. Nem mesmo a hipótese de um selinho era aventada — eca!, brincaram durante a viagem. Não havia atração entre as duas amigas, que estavam ali para ouvir, olhar e aprender. Deu certo. De tanto ouvir, olhar e aprender, no terceiro e último dia foram para a pizzaria e se encantaram com dois rapazotes bem apessoados, mas meio chucros. A noite valeu bem mais do que workshop, tertúlia, colóquio, convescote, oficina...