Crônica da semana: Paulo Pestana relata a formação do canalha
A vida do Zoca nunca foi a mesma depois que ele escreveu, no meio de uma discussão no Facebook, que tinha disfunção erétil. Profissional reconhecido, recém-separado, ainda atraente com seus olhos claros, estava refazendo a vida em outra cidade; seria um partidão, não fosse pelo acachapante ataque de sinceridade que o acometeu naquela manhã.
Uma boa alma até tentou ajudar, postando um “deixa de brincadeira” bem rapidinho, mas, como tudo o que está ruim pode piorar, Zoca insistiu: começou a dar detalhes e não havia quem o fizesse parar de teclar. Estava possuído pelo demônio da lhaneza.
O pessoal que participava da conversa obviamente se esqueceu do debate anterior e que inflamara os ânimos. Todos lembravam vagamente que era uma discussão política, com lados muito bem definidos, como tudo o que anda acontecendo no Brasil ultimamente.
O fato é que a orelha da presidente parou de esquentar e todos se concentraram na angústia do Zoca, já transformada em angústia de todos. E eu, que não sei como funciona essa traquitana, nem imagino como tanta gente soube do assunto tão rapidamente e entrou na conversa para chatear — quem entra em chat, chateia, não é isso? Formou-se a muvuca.
Zoca é apenas mais um a transformar área pública em uma privada. Todo dia as redes sociais parecem ruminar inconfidências, erodindo o que a humanidade custou a construir em cinco mil anos de civilização; há uma estranha compulsão pela exposição e, como o que chama a atenção é o inusitado, a compostura vai sendo esquecida. Ninguém mais quer ser anônimo, custe o que custar.
Zoca é conhecido por dizer o que pensa, o que já lhe custou alguns empregos. E há quem faça exercícios de autocomiseração em qualquer lugar, ataques de sinceridade não são tão incomuns assim. Mas ninguém ali, ao que parece, havia testemunhado uma confissão de tal magnitude.
Como disse Gore Vidal, para algumas pessoas, depois dos 50 anos, discutir sobre sexo toma o lugar do sexo. Mas ele certamente se referia ao vitupério de quem fica elogiando a própria performance, e não detratando-a. E se formou pelo menos um grupo paralelo de debate: o que levara Zoca à confissão, aparentemente, sem arrependimento?
Outro amigo recebeu recentemente uma mensagem da cunhada, no grupo da família, com pedido em tom desesperado para que ninguém abrisse o vídeo anterior. Implorou, mas é claro que todos viram a saliência que ela fez com o marido. Até que no churrasco de domingo um sobrinho acabou com a hipocrisia: “aí, tiozão; que potência!”.
No fim, Zoca revelou-se um cafajeste. Três semanas depois da confusão, me contou que estava saindo com uma das moças do grupo; e já era a terceira desde o incidente. A confissão fez com que elas se dispusessem a ajudá-lo a resolver o problema erétil que ele nunca teve. Por enquanto está colando e Zoca já tem até estratégia para quando o interesse diminuir: vai dizer que está pensando em virar gay. E esfrega as mãos: “Vai chover mulher”, disse-me o neocanalha.