Crônica da semana: Tudo bom, tudo Ben
'No chão, uma imensa legião de pessoas comuns, gente que dá duro todo dia, que mostra a força da alegria superando a ignorância do quebra-quebra.'
Paulo Pestana
Publicação:16/06/2017 06:00
É tanto dragão, ziquizira, urucubaca, morfina e caiporismo que faltava mesmo um Jorge guerreiro para afastar tudo isso de nós. Foi o que fez Jorge Ben Jor — impulsionado pelo Skank e pela cantora Céu — domingo passado, no Parque da Cidade, diante de dezenas de milhares de brasiliense.
O Jorge em questão pode não ser nenhum santo, mas valeu mais que um banho de sete ervas, mais que um descarrego com vinagre e sal grosso — foi uma desobsessão radical para limpar caminhos. Melhor que isso, só ebó de político.
Ninguém falou em crise, não houve lugar para as criaturas das castas inferiores do mundo obscuro; também não havia palavras de ordem, ninguém gritou fora para ninguém, não se abriu espaço para a alienação a que políticos e homens de capas pretas nos conduziram nos dias recentes, fazendo a vida do país orbitar em torno dos imensos egos de cada um deles.
Também não houve qualquer sensação de escapismo quando — por duas vezes — o público fez coro para se orgulhar em cantar que mora num país abençoado por Deus e bonito por natureza”. Naquele lugar só havia espaço para mostrar que o povo é mais forte, que o orgulho coletivo está vivo e que a resposta virá, no lugar e momento certos.
No palco, um verdadeiro guerreiro do povo brasileiro; não desses que cerram os punhos levantados quando pegos no malfeito, nem daqueles que se entocam depois do flagrante delito. Era um guerreiro capaz de levantar a massa a partir do sentimento de orgulho de pertencer a uma só nação e, sem falar de política, faz a verdadeira política.
No chão, uma imensa legião de pessoas comuns, gente que dá duro todo dia, que mostra a força da alegria superando a ignorância do quebra-quebra. Não era um coro de contentes; era gente que sabe separar os momentos que a vida nos reserva. Famílias inteiras se reuniram ali, dançando, cantando, agitando balões.
Um rapaz de bata, cabeludo — parecia um recém-chegado dos anos 1970 para aquele lugar —, dançava como se a vida dependesse daqueles instantes. Ao lado, a mocinha cantava todas as canções, mesmo as menos conhecidas, sem errar sílaba, enquanto a “geral” pulava e se esbaldava, invertendo as posições e levantando os artistas no palco.
Era uma celebração para o compositor Jorge Ben Jor, mas foi além. É uma música que representa o Brasil, não apenas pela longevidade do sucesso, pelo êxito internacional ou por sua perene originalidade, mas por nos dar um sentido de nação. Às vezes ufanistas, quase sempre ingênuas, são canções que pertencem a todos. Nada é mais subversivo que isso.
PS 1 - Jorge Ben Jor é cheio de mistérios e acaba de acrescentar mais um à galeria: o que ele carrega na bolsinha a tiracolo que ele não larga nem para entrar no palco?
PS 2 - Antes do show foi mostrada a música Concreto, amor e canção, na voz de Ana Reis (composta com Túlio Borges), que ganhou um concurso para estar ali. Agora precisa tocar no rádio.
Jorge Ben Jor e Céu no show Nivea no Parque da Cidade
É tanto dragão, ziquizira, urucubaca, morfina e caiporismo que faltava mesmo um Jorge guerreiro para afastar tudo isso de nós. Foi o que fez Jorge Ben Jor — impulsionado pelo Skank e pela cantora Céu — domingo passado, no Parque da Cidade, diante de dezenas de milhares de brasiliense.
O Jorge em questão pode não ser nenhum santo, mas valeu mais que um banho de sete ervas, mais que um descarrego com vinagre e sal grosso — foi uma desobsessão radical para limpar caminhos. Melhor que isso, só ebó de político.
Ninguém falou em crise, não houve lugar para as criaturas das castas inferiores do mundo obscuro; também não havia palavras de ordem, ninguém gritou fora para ninguém, não se abriu espaço para a alienação a que políticos e homens de capas pretas nos conduziram nos dias recentes, fazendo a vida do país orbitar em torno dos imensos egos de cada um deles.
Também não houve qualquer sensação de escapismo quando — por duas vezes — o público fez coro para se orgulhar em cantar que mora num país abençoado por Deus e bonito por natureza”. Naquele lugar só havia espaço para mostrar que o povo é mais forte, que o orgulho coletivo está vivo e que a resposta virá, no lugar e momento certos.
No palco, um verdadeiro guerreiro do povo brasileiro; não desses que cerram os punhos levantados quando pegos no malfeito, nem daqueles que se entocam depois do flagrante delito. Era um guerreiro capaz de levantar a massa a partir do sentimento de orgulho de pertencer a uma só nação e, sem falar de política, faz a verdadeira política.
No chão, uma imensa legião de pessoas comuns, gente que dá duro todo dia, que mostra a força da alegria superando a ignorância do quebra-quebra. Não era um coro de contentes; era gente que sabe separar os momentos que a vida nos reserva. Famílias inteiras se reuniram ali, dançando, cantando, agitando balões.
Um rapaz de bata, cabeludo — parecia um recém-chegado dos anos 1970 para aquele lugar —, dançava como se a vida dependesse daqueles instantes. Ao lado, a mocinha cantava todas as canções, mesmo as menos conhecidas, sem errar sílaba, enquanto a “geral” pulava e se esbaldava, invertendo as posições e levantando os artistas no palco.
Era uma celebração para o compositor Jorge Ben Jor, mas foi além. É uma música que representa o Brasil, não apenas pela longevidade do sucesso, pelo êxito internacional ou por sua perene originalidade, mas por nos dar um sentido de nação. Às vezes ufanistas, quase sempre ingênuas, são canções que pertencem a todos. Nada é mais subversivo que isso.
PS 1 - Jorge Ben Jor é cheio de mistérios e acaba de acrescentar mais um à galeria: o que ele carrega na bolsinha a tiracolo que ele não larga nem para entrar no palco?
PS 2 - Antes do show foi mostrada a música Concreto, amor e canção, na voz de Ana Reis (composta com Túlio Borges), que ganhou um concurso para estar ali. Agora precisa tocar no rádio.