A vida impressa em xerox questiona cidade afundada no funcionalismo público
Peça ocupa o palco do Teatro da Caixa este fim de semana
Diego Ponce de Leon
Publicação:04/09/2015 06:00

A peça aposta em humor sutil para debater o cotidiano
Eis que o governo local, no auge de sua inteligência institucional, cria um departamento integralmente responsável pelas cópias de documentos dos demais órgãos. A repartição cuidaria de tal incumbência e nada mais. A comunicação interna, no entanto, falhou ao não alertar os demais servidores sobre a criação de tal departamento. Assim, como é de costume, cada órgão adquiriu a própria máquina de xerox. Os funcionários do novo serviço ficaram fadados a um emprego sem diligências, afazeres ou responsabilidades. Cada dia era exatamente igual ao anterior: vazio.
O enredo fictício revela o mote de A vida impressa em xerox, da Cia. Teatro de Açúcar, que ocupa o palco do Teatro da Caixa este fim de semana. A referência ao serviço público tende a provocar a plateia, que se vê convidada a repensar o cotidiano. “Nossa ideia é justamente questionar nossos dias, sempre tão parecidos, povoados com as mesmas pessoas e horários”, conta o diretor, dramaturgo e músico Marco Michelângelo.
Por meio de cinco personagens, secretárias da repartição, a peça traz à tona o conflito entre a realização pessoal, o exercício de um ofício e a obsessão por estabilidade. Em uma cidade onde se vive tão intensamente a busca por uma vaga no funcionalismo público, o espetáculo toca em temas que ocupam diariamente o imaginário brasiliense.
Por meio de um texto leve e bem-humorado, a Cia. Teatro de Açúcar não intenta colocar em debate a figura do servidor. Pelo contrário. “Estamos falando com cada espectador. Perguntando: ‘Qual o sentido de seu dia a dia? Você faz o que lhe representa?’”, comenta Marco. A metáfora em cena é mero instrumento para uma indagação que cabe a todos nós: hoje foi diferente de ontem?
Saiba mais
A vida impressa em xerox encerra uma trilogia cênica “sobre o tédio e o tempo” pensada pelo grupo. Como nos trabalhos anteriores – Além do que se vê e Tenho febre mas vou buscar nosso dinheiro –, a companhia se debruça sobre questionamentos acerca da complexidade humana, sempre recorrendo a enredos com ares levemente cômicos, mas dotados de densidade provocativa.
SERVIÇO
A vida impressa em xerox
Da Cia. Teatro de Açúcar. Direção de Gabriel F. e Marco Michelângelo. Texto e dramaturgia de Marco Michelângelo. Com Ana Paula Braga, Eli Moura, Luiza Guimarães e Mirella Façanha e Gercy Fernandes. No Teatro da Caixa (SBS). Hoje e amanhã, às 20h. Domingo, às 19h. Ingressos a R$ 10 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 14 anos.