Em cartaz na Casa d'Itália, espetáculo 'Otelo' mostra os dramas do ciúme
A adaptação de Fensterseifer funciona como cartão de visitas ao público que não conhece a trama

Remontar clássicos de William Shakespeare é sempre um desafio. Ou o diretor fica preso ao que já foi visto e se repete, ou faz adaptações e corre o risco de se perder. O segundo caminho é o escolhido por James Fensterseifer em Otelo, espetáculo em cartaz na sala Adolfo Celi, na Casa d’Itália.
Não que o diretor e iluminador se perca. Ele vence essa parte do desafio e apresenta ao público uma versão em que a atualidade do texto de Shakespeare fica latente. O ciúme, tema central da trama, ainda é o mais importante. Mas assuntos da ordem do dia, como racismo e questões de gênero, entram em cena, especialmente na voz de Emília, personagem de Gustavo Gris, um tom acima dos outros competentes atores.
Tainá Baldez chama a atenção como Otelo, e Gabriela Correa também faz um Iago muito bom. Rodrigo Issa (Desdêmona) e Juliana Tavares (Cássio) não comprometem. Como provocação, os personagens masculinos são defendidos por atrizes e os femininos, por atores, num exercício interessante tanto para eles como para nós, público.
A adaptação de Fensterseifer funciona como cartão de visitas do dramaturgo ao público que não conhece a trama do Mouro de Veneza, mas desliza ao suprimir trechos inteiros, como, por exemplo, a guerra e a viagem de navio em que Desdêmona chega à ilha primeiro do que Otelo. O ritmo se atropela e a peça merecia mais minutos, para digerirmos o clássico.
SERVIÇO
Otelo
Adaptação e direção de James Fensterseifer para texto de William Shakespeare. Sala Adolfo Celi (Casa d’Itália 208/209 Sul; 3443-0606). Hoje e amanhã, às 21h15, domingo, às 20h15. Ingressos a R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.