Mais de 100 anos depois da morte de Machado de Assis, a obra do escritor ainda continua atual ao refletir as contradições da sociedade brasileira. Foi por esse motivo que o grupo de teatro Alfenim, de João Pessoa (PB), resolveu encarar o desafio de traduzir para a linguagem teatral o texto do escritor. O resultado da experiência é Memórias de um cão, peça baseada no romance Quincas Borba em cartaz de hoje a domingo no Teatro da Caixa Cultural.

 

“O nosso grupo sempre trabalha com assuntos brasileiros. Machado é uma referência no que se refere ao pensamento brasileiro e sempre dialoga com a atualidade”, explica o diretor do espetáculo, Márcio Marciano.

 

Para enfrentar o desafio, o grupo passou por algumas etapas antes de chegar ao formato encenado. “Primeiro estudamos a obra de Machado, sem ter ainda um recorte delimitado, em seminários com especialistas”, conta o diretor. Depois, com a escolha de Quincas Borba definida, o grupo encenou o espetáculo Ensaios sobre o humanitismo. “Nós nos centramos na filosofia maluca presente no livro, no que ela tinha de esdrúxula e de real hoje. A peça foi bem recebida, mas nós sabíamos que era apenas um estudo”, explica Marciano.

 

Só depois das duas etapas, o grupo chegou ao formato final em que o olhar do cão (personagem presente no romance e chamado, assim como o filósofo machadiano, Quincas Borba), se tornou o foco. “Não é à toa que o cão se chama Quincas, como o personagem. Lá pelas tantas do romance é que essa ficha cai”, comenta o diretor. “Quem encerra o romance é o cão, aí você percebe que há uma possibilidade de ler o romance a partir desse olhar, que, ironicamente, é o olhar mais humano”, explica.

Teatro da Caixa (SBS Q.4 lts.3/4). Hoje e amanhã às 20h, e domingo às 19h. Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3206-6456.