Questionando o bem e o mal, adaptação de 'Dogville' chega a Brasília
Primeira adaptação teatral brasileira do clássico Dogville faz temporada em Brasília e traz no elenco Alexia Dechamps, Blota Filho, Larissa Maciel, Otto Jr., Rodrigo Caetano, entre outros
Roberta Pinheiro
Publicação:01/11/2019 06:02Atualização: 31/10/2019 18:01
Invertendo o ponto de vista de Lars Von Trier, a adaptação teatral de Dogville aposta no uso da linguagem cinematográfica e também do teatro físico
A atmosfera seca e rústica do cenário e do figurino da primeira adaptação teatral de Dogville, um dos clássicos do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, contrasta com a potência dramática do corpo de baile em cena. Com direção do premiado Zé Henrique de Paula, o espetáculo estreia esta sexta (1º/11) e faz temporada na capital federal até 24 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil.
A trama é a mesma retratada nas telas pelo dinamarquês. Nos anos 1930, em um vilarejo chamado Dogville, a forasteira Grace aparece para fugir da perseguição de gângsters. A rotina pacata do lugar muda completamente com a chegada da desconhecida. Em troca do refúgio, ela começa a trabalhar para a comunidade. Contudo, no decorrer da narrativa, um jogo perverso se instaura entre os moradores da cidade e a bela: quanto mais ela se doa e expõe a sua fragilidade e a sua bondade, mais os cidadãos de bem exigem e abusam dela, levando a situação a extremos inimagináveis.
Convidado para dirigir a adaptação, Zé Henrique se surpreendeu com a expectativa do público para que o teatro fosse uma réplica do filme. “Por mais que parecesse petulante, queríamos uma outra linguagem, não queríamos repetir o filme ao vivo”, comenta. A estratégia usada foi inverter a linguagem. Se o longa tem uma proposta teatral, o espetáculo flerta com o cinema. “Dialogamos quase que invertendo o ponto de vista de Lars Von Trier. Criamos um cenário com telas de cinema, translúcidas, com projeções ao vivo e cenas gravadas. Então, o público vai poder ver um close dos atores, detalhes da mão e decidir o que ele quer assistir na tela”, explica.
O diretor também apostou no uso do teatro físico, aquele que não depende só da palavra. “Como se as narrativas físicas pudessem complementar o que está sendo dito. Por vezes, parece um ballet”, descreve. Em cena, os atores formam um elenco heterogêneo, que mescla as distintas experiências artísticas: tevê, teatro, musical e cinema. “Mais do que a estética, embora os filmes sejam belíssimos, é uma discussão moral, uma discussão a respeito do bem e do mal. Ele coloca o bem e o mal em um alto grau de complexidade, não é nada maniqueísta e simplificador, pelo contrário, provoca uma discussão profunda do que é ser uma boa pessoa, do que é fazer o bem, do que é fazer o bem sob diferentes pontos de vista. Uma discussão de moralidade dentro da sociedade, de um coletivo. Tudo isso sempre me chamou atenção nos trabalhos do Lars Von Trier”, finaliza Zé Henrique.
Serviço
Dogville
No Centro Cultural Banco do Brasil. Até 24 de novembro. De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Disponíveis na bilheteria e no site www.eventim.com.br. Não recomendado para menores de 16 anos.