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25/ABR/2024

Ator despede-se de 'Meu Pedacinho de Chão' com mais trabalho à vista

O veterano Emiliano Queiroz, que deu vida ao Padre Santo, não esconde a satisfação de ter atuado na inovadora telenovela de Luiz Fernando Carvalho

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Agência Estado Publicação:01/08/2014 10:45Atualização:01/08/2014 10:54
Ator Emiliano Queiroz com sua biografia Emiliano Queiroz - Na sobremesa da vida, escrita por Maria Leticia. (Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias)
Ator Emiliano Queiroz com sua biografia Emiliano Queiroz - Na sobremesa da vida, escrita por Maria Leticia.
O veterano Emiliano Queiroz, o Padre Santo da novela "Meu Pedacinho de Chão", não esconde a satisfação de ter atuado - mais uma vez na pele de um padre - na rocambolesca telenovela conduzida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho no horário das 18 horas da TV Globo. "Eu já fiz dezenas de padres, mas um padre do Luiz Fernando não é um padre", brinca o ator, em entrevista por telefone.

"Aquelas roupas, as botas então, são pesadas", conta Queiroz, 78 anos, lembrando que não é de hoje que trabalha com o diretor - ele fez a segunda versão de "Irmãos Coragem", dirigida por Carvalho em 1995; e a minissérie "Hoje é Dia de Maria", de 2005

"Foram três meses de preparação para começar a gravar 'Meu Pedacinho de Chão'. Eram aulas, trabalhos de voz. Eu fui me entregando - é assim quando acredito no que estou fazendo, mas, também, mesmo quando não é algo especial, eu me esforço e acabo acreditando. O Luiz Fernando tem uma coisa que, quando você entra na ideia e abraça o projeto, ele lhe dá toda liberdade", explica, dizendo que o ritmo de trabalho "é puxado, mas, ao mesmo tempo, estimulante".

Nem mesmo a idade avançada tira o entusiasmado de Queiroz, que afirma sobre a sua rotina: "É muito irregular: quando estou gravando, acordo às 5h40 e chego à TV Globo às 7h. Leva uma hora para a caracterização do personagem, depois vou gravar externa, volto ao estúdio e, quando saio da TV, já são nove horas da noite".

Pioneiro da TV cearense (é do município litorâneo de Aracati, famoso pela praia de Canoa Quebrada), Emiliano até já escreveu novela ("Anastácia, a Mulher sem Destino", TV Globo, 1967) e, entre os quase 300 personagens - que ele diz que não ousa contar - que interpretou na TV, ninguém esquece o delicado e atrapalhado Dirceu Borboleta da novela de 1973, "O Bem Amado" e da série homônima que estreou em 1980.

"Já faz muitos anos, mas é raro o dia em que alguém não fala no Dirceu. Outro dia, uma turma de garis passou em cima de um caminhão me imitando. Sou muito feliz por ter conseguido sobreviver desse ofício, ter podido nesses anos todos divertir as pessoas, e também me divertir. São 50 e tantas novelas, 50 e tantos filmes."

Entretanto, como ninguém vive das glórias do passado, trabalhar é preciso. O contrato na TV Globo traz segurança. "Já não fico mais ansioso", reconhece o ator, de quem o mínimo que se pode dizer é que nunca parou de atuar. "Tenho dois filmes para estrear e muitas propostas de trabalho. A gente pensa que, quando fica velho, as coisas acabam. Porém, há uma renovação com pessoas de outras gerações."

Emiliano Queiroz tem uma atuação marcante, também, no cinema e no teatro. Nessa vida louca de atuar em dois lugares ao mesmo tempo, em 2004 ele fazia no Rio de Janeiro a superprodução teatral "Medéia", com Renata Sorrah e José Mayer, enquanto filmava com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, nos Lençóis Maranhenses, o longa "Casa de Areia". Fez também o filme emblemático de Karim Aïnouz, "Madame Satã", em 2002 e o recente "Meu Pé de Laranja Lima", lançado no ano passado. Depois da novela, retomará a montagem teatral (autobiográfica) "Na Sobremesa da Vida" em novas temporadas em São Paulo e Porto Alegre.

"Sou um pioneiro, de certa forma. Quando comecei a fazer teatro em Fortaleza, era um adolescente, tinha 13 anos. Aos 15, tinha um programa no rádio e não existia TV nem essa ideia de ficar famoso", diz Emiliano, narrando episódios de uma longa carreira artística.

Largou a rádio em Fortaleza e foi estudar teatro em São Paulo, "para ampliar conhecimentos". Mas logo voltou à capital cearense, onde começou a fazer TV. De novo retornando a São Paulo - já tendo atingindo a maioridade -, aos 18 anos ingressou na companhia de teatro da atriz Maria Della Costa, conduzido pelo diretor Flávio Rangel (1934-1988). E foi introduzido, também, à TV Paulista. "Como já fazíamos televisão ao vivo no Ceará, eu estava afiado em decorar. E fui ficando em São Paulo, na companhia de Maria Della Costa, na TV Paulista."

Quando a Rede Globo estava prestes a ser inaugurada, o ator foi ao Rio de Janeiro para alguns testes no Teatro Golden Room, no hotel Copacabana Palace, que era comandado pelo produtor de revistas musicais Carlos Machado (1908-1992). "A Globo me convidou para fazer 'Ilusões Perdidas', que eu já tinha feito ao vivo na TV Paulista. Eu fazia esses shows do Carlos Machado, com Suely Franco, Ary Fontoura, Irene Ravache. E fui ficando no Rio "

Ficou e foi bem-sucedido. "O diretor Fauzi Arap me chamou para a primeira montagem de 'Navalha na Carne', que emendamos com 'Dois Perdidos numa Noite Suja'. Fui pioneiríssimo no Ceará e também na TV Globo", orgulha-se o ator.

A primeira novela em cores? Lá estava o Emiliano na pele do "abestalhado" Dirceu Borboleta. "Eu era jovem... Era bonito e fiz muito galãzinho no início, mas sempre tive um pé na composição."

No início, na infância em Aracati, ele tinha apenas seis anos e dizia à mãe que queria ser padre. "Mas era para ir embora da cidade", diverte-se o ator, contando que, diante do entusiasmo do pároco local, a mãe avisou. "Não vou deixar meu filho ir embora. A vocação dele é o teatro."

"Ela me conhecia e foi minha grande cúmplice", reconhece o artista, que, na pele do simpático e esperto padreco de "Meu Pedacinho de Chão", fez, mais uma vez, um pequeno show particular de dignidade na profissão com total habilidade, talento e traquejo.

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