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17/MAR/2024

José de Abreu repete parcerias memoráveis de sua carreira em "O Rebu"

O ator é conhecido por viver intensamente seus personagens, como raspar a cabeça com máquina zero durante meses e ficar quase um ano com a barba e o cabelo sem cortes

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Agência Estado Publicação:01/08/2014 10:54
 (Alex Carvalho/TV Globo)
José de Abreu gosta de viver intensamente. No trabalho, mergulha tão a fundo em seus personagens que já foi capaz de raspar a cabeça com máquina zero durante meses para interpretar o sacerdote indiano Pandit em "Caminho das Índias" e ficar quase um ano com a barba e o cabelo sem cortes ao viver o rabugento Nilo de "Avenida Brasil". E em "O Rebu" não é diferente. O ator, que interpreta o corrupto Bernardo na novela das 23 horas da Globo, não chegou a despir-se de sua vaidade ou enfrentar grandes dilemas para construir seu personagem. Mas garante entregar toda a experiência de seus 68 anos de idade - 34 deles dedicados principalmente à televisão - na busca pelo mesmo êxito que vem conquistando em seus últimos papéis. E acredita que tem um grande trunfo na mão para conseguir isso: a relação intensa dentro e fora de cena com os colegas Tony Ramos e Cássia Kis Magro. Principalmente porque já teve, com os dois, experiências de sucesso no passado.

Na trama, Bernardo é o braço direito do inescrupuloso Carlos Braga, personagem de Tony. Os dois estão, a todo custo, tentando encontrar um dossiê que Angela, vivida por Patrícia Pillar, prepara em parceria com Gilda, esposa e "pedra no sapato" do advogado, papel de Cássia. Os dois, aliás, vivem um casamento marcado pela infidelidade e pelo descaso mútuo. "É uma relação desgastada em que cada um tem seu amante e esfrega isso na cara do outro sem culpa. Mas ambos são advogados e eles têm um lema: melhor o pior acordo que uma boa causa", afirma José de Abreu. E completa: "O próprio Bernardo diz que o divórcio é pior que um terremoto".

Você tem emendado um trabalho no outro na televisão. O que o fez dizer "sim" para o convite de "O Rebu"?

JOSÉ DE ABREU - Muitas coisas contam na hora de você entrar num trabalho. "O Rebu" é uma história fascinante e isso já seria o suficiente para qualquer um querer participar. Mas essa novela tem uma equipe que impressiona. Basta olhar as pessoas envolvidas, desde o texto e direção até o elenco, para perceber que não estou exagerando.

Essa é a terceira vez que você faz uma parceria mais estreita com o Tony Ramos em uma novela. Como tem sido essa relação?

JOSÉ - É verdade, mais uma vez eu estou fazendo uma dobradinha com ele. A gente começou em "Bebê a Bordo", em 1988, quando eu fazia o Tonhão e ele, o Tonico. O Carlos Lombardi (autor) chegou a me dizer, na época, que talvez eles se tratassem de um mesmo personagem, com duas faces: o Tonhão era um louco e o Tonico, um careta. Até perguntei se tinha alguma coisa a ver com nossas personalidades e ele riu, falando que qualquer semelhança era mera coincidência. É que eu sempre tive uma vida um pouco menos regrada que o Tony. E isso não é nenhuma vantagem ou demérito para ele ou para mim. Depois, fizemos "Caminho das Índias", que foi uma delícia. Eu, na pele do Pandit, o sacerdote do Opash, papel dele. A gente se divertia muito em cena porque aquela casa reunia uns 12 ou 13 atores. Era sempre uma festa. E o Tony não é só o que as pessoas veem, esse cara responsável e sério em relação ao trabalho. Ele vai além.

Em que sentido ele vai além?

JOSÉ - Olha, antigamente, se falava "atenção, roda VT; VT rodando, gravando". E o Tony soltava uma piada entre esse "atenção" e o "gravando". Lembro de uma: "Sabe o português que foi jogar tênis? Pois é, voltou descalço". Aí você passa uma dessas e quando o diretor fala o gravando você está rindo feito idiota. O Tony faz aquela cara de Tony Ramos dele, de quem não falou absolutamente nada, e você leva a bronca do diretor (risos). O Tony talvez seja o maior piadista entre nós, atores. Ele imita todo mundo, é bem engraçado. Acho que ele deve ter insônia de madrugada e, nessas horas, fica inventando as piadas que conta para a gente. Tive dois grandes reencontros em "O Rebu" que me deixaram bem feliz e agradecido por trabalhar nesse projeto.

Qual foi o segundo reencontro?

JOSÉ - A Cássia Kis Magro. Fizemos um casal maravilhoso em "Porto dos Milagres", em 2001. Eu interpretava Eriberto, um homem apaixonado pela Adma, personagem da Cássia. No final, Adma tentava matar Eriberto com vinho envenenado, mas ele trocava os copos e ela morria. Antes de morrer, porém, ele tomava o resto do vinho que estava no copo e morria junto. Um desfecho lindo, ainda mais por ser com a Cássia, que é uma atriz completamente fora de qualquer parâmetro.

Você já avisou que após "O Rebu" vai ficar um ano parado para morar na Europa. O que o motivou a tomar essa decisão?

JOSÉ - Pois é, agora eu vou parar. Vou entrar em um ano sabático que, na verdade, nem sei se vai chegar a um ano. Devo ficar uns 10 meses, para voltar em maio ou junho de 2015. Estou reservado pela Amora Mautner (diretora responsável por "Favela Chique", novela de João Emanuel Carneiro, prevista para estrear no segundo semestre de 2015). Então, vou passar um tempo em Paris e, quando a Globo me chamar, volto. Aluguei um apartamento lá por prazo longo.

Por que escolheu Paris?


JOSÉ - Já me fiz essa pergunta. E acho que foi porque a minha geração tem uma visão de mundo muito mais europeia do que americana. Minha faculdade era inspirada na França. Créditos, semestres, esse sistema novo vem do modelo americano. A ditadura inventou isso para que os colegas de faculdade não ficassem tão amigos como eram antigamente. Primeiro, você ficava todos os anos com a mesma turma, o que criava uma estrutura muito forte de amizade e também de luta política. A universidade era o grande espaço para se pensar a realidade brasileira. Fui preso em 1968, na mesma época em que o Daniel Cohn-Bendit (líder da rebelião de maio de 68 em Paris) estava sendo caçado lá no movimento "É Proibido Proibir". E o primeiro país em que tentei me exilar foi a França. Mas tinha tanto brasileiro lá que me mandaram para Londres e, então, fui convidado para trabalhar em Amsterdã. Agora, nos últimos anos, começou a me dar vontade de resgatar a língua francesa que aprendi na escola. E já fui lá três vezes nesse ano e está tudo voltando. Francês era a língua oficial antigamente.

Você lembrou de sua luta política na época da ditadura, seu exílio e seu período de faculdade para falar da mudança para Paris. Está procurando uma espécie de resgate com essa viagem?

JOSÉ - Sim, é um resgate mesmo. Estou ficando muito velho, acabei de fazer 68 anos. Me deu vontade de ficarum tempo lá e, como a Amora Mautner me reservou, achei que tinha chegado o momento. Tive uma reunião com a Globo e definimos isso. Renovei com a emissora no final de "Avenida Brasil", em 2012, mas renegociei meu contrato recentemente. Como vou ficar muito tempo parado, meu salário ficaria bem menor porque recebemos menos nos períodos em que estamos fora do ar. Mas conseguimos uma adequação que já me permite ficar uns 10 meses assim.

Pretende se inscrever em algum curso ou mesmo buscar algum trabalho na França?

JOSÉ - Talvez eu faça alguma coisa de teatro lá. Mas algo simples, como um monólogo com legenda de ópera, daquelas que passam em cima ou embaixo do palco. O Brasil está na moda já faz algum tempo. O rapaz que me alugou o apartamento disse que não há um francês que não goste do Brasil. Eu abri conta em banco, fiquei com uma vida regular em Paris. E noto que as pessoas gostam mesmo da gente. O Brasil e a França já tiveram uma relação mais intensa na música, no passado. E não podemos esquecer que em 1998, quando a Copa do Mundo foi realizada lá, perdemos a final para eles! Acho que essa pode ser uma época boa para me arriscar nessa aventura.

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