Libertinagem e opressão caminham lado a lado no longa pernambucano Tatuagem
Escolado no trato com marginalizados, o cineasta Hilton Lacerda tem as manhas com essa galeria de tipos, vide os roteiros de longas que assinou anteriormente
Ricardo Daehn
Publicação:22/11/2013 06:00Atualização: 21/11/2013 17:53
De um lado, os militares; do outro, a militância. O cenário é de fins dos anos 1970, e a justaposição dos comandantes e dos contestadores não traz confronto direto. Saído de alojamento do Recife, o soldado Fininha (Jesuíta Barbosa) cai, meio de paraquedas, nos solares e debochados shows do cabaré Chão de Estrelas, grupo integrado por figuras como Paulete (Rodrigo García) e Clécio (o camaleônico e sensível Irandhir Santos). Numa dualidade que remete ao cubano Morango e chocolate, Tatuagem prega uma libertinagem que vai de encontro ao cerceamento: entre proibições enfrentadas pelos artistas, há muito espaço para sutil humor, como pontua um repressor que se apresenta com um descabido “Eu sou só um censor”.
Em foco, Lacerda prioriza o poder da arte que desautoriza princípios à la tradição, família e propriedade. Sem maniqueísmo formatado, o filme se vale de matizes: Clécio, por exemplo, tem um filho; Fininha guarda ações obscuras (sem posar de santo); um sargento se engancha com subalternos e os moderados “anarquistas” podem se embalar por drogas.
Tatuagem tem no epitélio a contestação. É marca que fica e na qual pulsa uma das frases do roteiro que sublinha a necessidade de se “inaugurar o futuro”. Futuro ou final feliz ainda não convenceram Hilton Lacerda.
Clécio (Irandhir Santos) e Paulete (Rodrigo García): os cabeças do grupo artístico enfocado no longa
De um lado, os militares; do outro, a militância. O cenário é de fins dos anos 1970, e a justaposição dos comandantes e dos contestadores não traz confronto direto. Saído de alojamento do Recife, o soldado Fininha (Jesuíta Barbosa) cai, meio de paraquedas, nos solares e debochados shows do cabaré Chão de Estrelas, grupo integrado por figuras como Paulete (Rodrigo García) e Clécio (o camaleônico e sensível Irandhir Santos). Numa dualidade que remete ao cubano Morango e chocolate, Tatuagem prega uma libertinagem que vai de encontro ao cerceamento: entre proibições enfrentadas pelos artistas, há muito espaço para sutil humor, como pontua um repressor que se apresenta com um descabido “Eu sou só um censor”.
Saiba mais...
Escolado no trato com marginalizados, o cineasta Hilton Lacerda tem as manhas com essa galeria de tipos, vide os roteiros de longas que assinou, entre os quais de Amarelo manga, A festa da menina morta e A febre do rato. Fininha — o militar “de cheiro doce”, como detecta Clécio — troca uma vida opaca (representada em providenciais travellings) pela energética convivência dos donos do picadeiro e das picardias dadas como subversivas. “Tu já foste criado na confusão, o menino (Fininha) tá começando agora”, observa Clécio, para Paulete, na condição ainda maior do que a de tutor do rapaz.Em foco, Lacerda prioriza o poder da arte que desautoriza princípios à la tradição, família e propriedade. Sem maniqueísmo formatado, o filme se vale de matizes: Clécio, por exemplo, tem um filho; Fininha guarda ações obscuras (sem posar de santo); um sargento se engancha com subalternos e os moderados “anarquistas” podem se embalar por drogas.
Tatuagem tem no epitélio a contestação. É marca que fica e na qual pulsa uma das frases do roteiro que sublinha a necessidade de se “inaugurar o futuro”. Futuro ou final feliz ainda não convenceram Hilton Lacerda.