Trem noturno para Lisboa faz crtícias à religião e a um aquietado Poder Judiciário
Originado em "Um ourives das palavras", o roteiro une laços de amizade, traição e romance
Ricardo Daehn
Publicação:29/11/2013 06:02
Além de críticas à religião e a um aquietado Poder Judiciário, fontes omissas na ditadura, o diretor consegue imprimir ao filme alguma poesia. Mas, mesmo rica, a narrativa do filme fica muito condicionada a um passado que desponta entrecortado em demasia. A montagem também sofre com um excesso de personagens. Pelo menos, entre tanto empenho, o literato diretor Bille August consegue amarrar uma trama difícil de adaptar, abraçando todos os detalhes. Um mérito para tantas peças soltas de roteiro dentado por laços de amizade, traição e romance, e que compreende passagens por vários locais, entre os quais Salamanca e o Cabo Finisterra.
O professor Raimund (Jeremy Irons) vê a vida mudar após conhecer o professor Amadeu
Defendendo um filme com trama absolutamente dependente da literatura (tudo é originado pelos mistérios da sinopse de Um ourives das palavras), o diretor dinamarquês Bille August volta a cometer a heresia de filmes anteriores (e nada autênticos), afirmados na língua inglesa: caso do chileno A casa dos Espíritos e do francês Os miseráveis. Tão desorientado em termos de futuro quanto os personagens do raro romance do português Amadeu de Prado (nas telas, Jack Huston), o protagonista de Trem noturno para Lisboa é o solitário professor de línguas Raimund (Jeremy Irons).
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Admirador da união entre pensamento e ação alcançada por romanos, ele, morador da Suíça, se dá conta da palidez de sua vida, ao topar com a realidade de Amadeu, sufocado pela “ditadura enquanto fato e a revolução como dever”. Vale esclarecer que o médico Amadeu, ao lado do amigo Jorge, igualmente formado na Universidade de Coimbra, figura na resistência aos desmandos na ditadura de Salazar e dos agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado.Além de críticas à religião e a um aquietado Poder Judiciário, fontes omissas na ditadura, o diretor consegue imprimir ao filme alguma poesia. Mas, mesmo rica, a narrativa do filme fica muito condicionada a um passado que desponta entrecortado em demasia. A montagem também sofre com um excesso de personagens. Pelo menos, entre tanto empenho, o literato diretor Bille August consegue amarrar uma trama difícil de adaptar, abraçando todos os detalhes. Um mérito para tantas peças soltas de roteiro dentado por laços de amizade, traição e romance, e que compreende passagens por vários locais, entre os quais Salamanca e o Cabo Finisterra.