Na esteira de láureas como o prêmio Robert Altman e elogios no Village Voice e no New York Times, Uma estranha amizade concorreu também a um troféu que leva o nome do papa do cinema independente, John Cassavetes. Da obra de Cassavetes, por sinal, o filme absorve o tipo de ambiente crivado de autenticidade nas locações (as ruas têm jeitão de rua, sem maquiagens) e a encenação pende bastante para a naturalidade.

Daí, a escalação da estreante Besedka Johnson (que faleceu em abril) para contracenar com Dree Hemingway (filha, na vida real, da eterna musa de Woody Allen, Mariel, vista em Manhattan). Respectivamente, à frente das personagens Sadie e Jane, ambas sustentam toda a trama: atriz de um catálogo de produções pornográficas, uma jovem fortalece relações com uma reclusa e rabugenta idosa. Depois de comprar um objeto de Sadie, Jane invade a vida da solitária senhora, interceptando, por exemplo, as corridas regulares de táxi dela e propondo caronas.

Há uma enorme dívida que a jovem — sublocatária da casa dos despirocados Melissa e Mikey (Stella Maeve e James Rasnsone) — tenta reparar, diante de uma inesperada bolada de dólares. Para além do confronto de gerações, o diretor arrisca, a cada momento, com a queda de expectativas e de encaminhamento da história. Um dos maiores méritos é o de não ceder para o piegas, mesmo tratando do registro de bingos nada animados e de dores relacionadas à morte de familiares.