Na mesma estrutura do primeiro longa, Ninfomaníaca 2 parece pouco oxigenado
A sequência do longa não satisfaz a curiosidade das raízes de desacordo entre o socialmente aceito e o comportamento incandescente de Joe
Ricardo Daehn
Publicação:14/03/2014 06:01
Apesar de todos os ataques sofridos nos últimos anos, de uma coisa tem-se certeza: Lars von Trier mantém a coerência. Ignorar a desenvoltura com a qual desembrulha um pacote de temas espinhosos também não seria inteligente. Daí lançá-lo à deificação — talvez, um saldo esperado por quem cutuca o sagrado da Transfiguração (de Cristo), representado em obras como a de Rafael Sanzio — soa a excesso, principalmente, quando se leva em conta o resultado final do díptico, meio instável, de Ninfomaníaca.
Remexendo em conceitos da “Igreja da felicidade” (a católica ortodoxa), opostos ao das penitências (ocidentais), Lars von Trier comunga o ápice do prazer sexual com uma sagrada imagem cristã.
Na mesma estrutura do primeiro longa (de interminável bate-papo entre Joe e Seligman), o segundo volume da fita parece pouco oxigenado, ao mesmo tempo em que não satisfaz a curiosidade das raízes de desacordo entre o socialmente aceito e o comportamento incandescente de Joe, debochadamente, cantada na trilha como “uma garota comum”.
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Entre a tolerância ao amontoado de “idiotice matemática” sustentado por Seligman, em suas conversas recheadas de referências ao “prazer literário”, é a “pária social” Joe quem polemiza: “Que tipo de pessoa é você, Seligman, de verdade?”
Investigar, urge, para que von Trier imprima sua negativa visão de mundo. Joe, aliás, é quem se autoesculacha, se assumindo “inescrupulosa”, mesmo que esteja sugestionada ao máximo do exorcismo, abraçando uma definhada vida sexual, com precauções bizarras para evitar recaídas no prazer.
Cena de Ninfomaníaca II: histórias pouco ortodoxas do diretor dinamarquês
Apesar de todos os ataques sofridos nos últimos anos, de uma coisa tem-se certeza: Lars von Trier mantém a coerência. Ignorar a desenvoltura com a qual desembrulha um pacote de temas espinhosos também não seria inteligente. Daí lançá-lo à deificação — talvez, um saldo esperado por quem cutuca o sagrado da Transfiguração (de Cristo), representado em obras como a de Rafael Sanzio — soa a excesso, principalmente, quando se leva em conta o resultado final do díptico, meio instável, de Ninfomaníaca.
Remexendo em conceitos da “Igreja da felicidade” (a católica ortodoxa), opostos ao das penitências (ocidentais), Lars von Trier comunga o ápice do prazer sexual com uma sagrada imagem cristã.
Saiba mais...
Não demora para o indício de contato entre a protagonista (a perversa Joe) e a Virgem Maria cair por terra: insaciável, Joe — na visão do coprotagonista Seligman (Stellan Skarsgard) — teria muito mais assunto com a depravada Valéria Messalina. Na mesma estrutura do primeiro longa (de interminável bate-papo entre Joe e Seligman), o segundo volume da fita parece pouco oxigenado, ao mesmo tempo em que não satisfaz a curiosidade das raízes de desacordo entre o socialmente aceito e o comportamento incandescente de Joe, debochadamente, cantada na trilha como “uma garota comum”.
Entre a tolerância ao amontoado de “idiotice matemática” sustentado por Seligman, em suas conversas recheadas de referências ao “prazer literário”, é a “pária social” Joe quem polemiza: “Que tipo de pessoa é você, Seligman, de verdade?”
Investigar, urge, para que von Trier imprima sua negativa visão de mundo. Joe, aliás, é quem se autoesculacha, se assumindo “inescrupulosa”, mesmo que esteja sugestionada ao máximo do exorcismo, abraçando uma definhada vida sexual, com precauções bizarras para evitar recaídas no prazer.