A sensação de uma vida controlada e a preferência pelo isolamento são cargas acumuladas pelo protagonista do longa de estreia de Daniel Ribeiro, Leonardo (Ghilherme Lobo). Esteio para a trajetória um tanto acidentada de Leo, que é cego e enfrenta preconceito na escola, Giovana (Tess Amorim) é a confiança em pessoa. A menina desenvolve rituais e se faz presente nos ritos de passagem do rapaz, que incluem contato com os primeiros porres, idealização do beijo inaugural e das primeiras festas.

No começo da vida, Leo esbarra em Gabriel ( Fabio Audi), companheiro de trabalhos na escola. Meio relutante, ele troca a eterna negativa (“Para mim, é sempre escuro”) por algo mais solar — e, diga-se de passagem, a metáfora do eclipse fica meio primária, quando explicada, no texto, para deixar tudo claro. Representando Sol, Lua e Terra, em ordem aleatória, o trio de novos amigos passará por momentos de cisão. “Nunca tinha pensado em você desse jeito”, reforça a menina, sem ranço pejorativo, ao saber da sexualidade de Leo.

Prêmio da crítica na Mostra Panorama do Festival de Berlim, Hoje eu quero voltar sozinho da adolescência. Algo similar ao que Jorge Furtado fez em Houve uma vez dois verões (2002). Ciúmes infantis e tentativa de fuga estão na rota dos jovens. Zoeira pública, inseguranças e desejos (em cenas como a do banho, num acampamento), além de outros pequenos percalços vão sendo debelados com leveza pela eficiente direção. Para completar, há boa trilha com Belle & Sebastian e Arvo Pärt (presente em obras como Soldados de Salamina e Os Maias).

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