Foram 13 indicações ao prêmio David di Donatello — o mais importante da indústria italiana —, entre as quais O melhor lance faturou prêmios de filme e direção para o veterano Giuseppe Tornatore. Como feito em Malèna e em Cinema Paradiso, o cineasta extrai nostalgia e amadurecimento sentimental em trama que dialoga com o passado. Entre o constante manejo com altas somas (no dia a dia em leilões), tratamentos impessoais e a certeza de que “falar com as pessoas é muito perigoso”, o protagonista vivido por Geoffrey Rush é Oldman (metódico e, como o nome indica, ultrapassado).

Cabelo pintado, sempre na estica e encolhido numa concha social, Oldman é o representante de empresa londrina com a cabeça voltada para preciosidades. Pelas mãos dele escoam obras de Petrus Christus e, numa linha com um quê de A invenção de Hugo Cabret, resquícios de um androide que muito bem poderia ser de autoria do inventor Jacques de Vaucanson. Quem o ajuda no restauro da peça é o geek Robert (Jim Sturgess).

Passo a passo, Oldman se arrisca também no “clube dos apaixonados”, depois de se envolver no inventário de Claire (a pouco convincente holandesa Sylvia Hoeks). Com Donald Sutherland no elenco, o filme de Tornatore — que trata, entre outras coisas, de confiança e de agorafobia — vem revestido de excelência técnica, com ótima música de Ennio Morricone e fotografia lustrosa de Fabio Zamarion (Respiro).

Nem tudo é perfeito e há um discurso levemente machista da parte de um dos personagens. Reflexo da vida, entretanto, projetado no cinema. Também é verdade que o roteiro de Tornatore não é dos mais misteriosos, quando deixa implícito jogo incrustado na trama. Em clima de perda total, a derradeira cena é uma aula de cinema.