Filme Riocorrente traz cotidiano complexo de moradores paulistas
O filme paulista serve como registro da sensação de incômodo no Brasil dos anos 2000
Yale Gontijo
Publicação:25/07/2014 06:02Atualização: 25/07/2014 08:32
Há um protesto sem slogan inserido nas entrelinhas de Riocorrente, primeiro filme de ficção dirigido por Paulo Sacramento (diretor que acumula no currículo a realização do documentário Prisioneiro da grade de ferro, entre outros). O longa foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro do ano passado e levou os Candangos de montagem e fotografia.
Sem histeria, três habitantes da cidade de São Paulo experimentam a angústia de estar com o coquetel molotov nas mãos e não encontrar um alvo para mirar sua frustração. Os dramas impalpáveis estão todos escondidos sob a pele dos personagens de um triângulo amoroso desapaixonado.
Marcelo (Roberto Audio) corresponde ao ângulo racional, enquanto o mecânico Carlos (Lee Taylor) representa a força física. O terceiro vértice, Renata (Simone Iliescu), é uma mulher em busca de satisfação sexual.
Ao lado do pernambucano O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, o filme paulista serve como registro da sensação de incômodo no Brasil dos anos 2000. Tem como mérito não estabelecer certezas de um caminho seguro e ainda avisar sobre o perigo de uma cidade entrar em combustão.
Leia entrevista com o diretor Paulo Sacramento:
Sobre o que fala Riocorrente?
Não existe uma única linha narrativa, a narrativa serve para alinhavar várias sensações para descrever os dias de hoje, como eu sinto o clima do Brasil atualmente. A linha narrativa do filme é um pretexto para trazer para as telas esse clima. Os personagens estão vivendo um momento de crise muito forte, muita angústia, muita pressão e não conseguem identificar de onde vem a pressão.
O filme já devia estar em produção quando ocorreu a explosão de protestos de junho de 2013 no Brasil mas, pensando bem, existem muitas semelhanças entre a ficção e a realidade. É a esse clima que que o filme se refere?
Acho que não vimos nem metade do que ainda vai acontecer no Brasil. A história está em andamento. Apesar de não ser o assunto principal do filme, essa sensação de incômodo que o cidadão tem é facilmente identificada no Brasil hoje. No filme tentamos falar disso de maneira metafórica. Trabalhamos poeticamente esse estado de espírito. Sinto sim muita vontade das pessoas de parar de protelar as coisas, enfrentar os problemas. A ideia é não mais empurrar o país com a barriga. Houve tantas mudanças excelentes no Brasil mas ainda falta muita coisa ainda para ser feita.
Riocorrente usa de práticas do naturalismo no cinema mas termina como um filme de fantasia. Podemos dizer que a fita se filia a uma espécie de gênero misto?
O cinema se encaminhou para um naturalismo muito grande principalmente nos últimos anos. O teatro é muito mais livre nesse sentido, se assume como representação de alguma coisa enquanto o cinema pretende ser aquela coisa. A mistura do documentário com ficção também tem se tornado muito comum. Mas não acho que é a única maneira. Queria fazer um cinema mais alegórico, com uso da linguagem do teatro para romper com o naturalismo. Junto com a preocupação social se desenvolve um caminho onírico que não fica se preocupando muito com psicologia dos personagens. Certos personagens reagem a uma situação como uma coisa do momento. Flagramos o momento.
A fotografia e a montagem de Riocorrente foram premiadas no último Festival de Brasília
Há um protesto sem slogan inserido nas entrelinhas de Riocorrente, primeiro filme de ficção dirigido por Paulo Sacramento (diretor que acumula no currículo a realização do documentário Prisioneiro da grade de ferro, entre outros). O longa foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro do ano passado e levou os Candangos de montagem e fotografia.
Sem histeria, três habitantes da cidade de São Paulo experimentam a angústia de estar com o coquetel molotov nas mãos e não encontrar um alvo para mirar sua frustração. Os dramas impalpáveis estão todos escondidos sob a pele dos personagens de um triângulo amoroso desapaixonado.
Marcelo (Roberto Audio) corresponde ao ângulo racional, enquanto o mecânico Carlos (Lee Taylor) representa a força física. O terceiro vértice, Renata (Simone Iliescu), é uma mulher em busca de satisfação sexual.
Ao lado do pernambucano O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, o filme paulista serve como registro da sensação de incômodo no Brasil dos anos 2000. Tem como mérito não estabelecer certezas de um caminho seguro e ainda avisar sobre o perigo de uma cidade entrar em combustão.
Leia entrevista com o diretor Paulo Sacramento:
Sobre o que fala Riocorrente?
Não existe uma única linha narrativa, a narrativa serve para alinhavar várias sensações para descrever os dias de hoje, como eu sinto o clima do Brasil atualmente. A linha narrativa do filme é um pretexto para trazer para as telas esse clima. Os personagens estão vivendo um momento de crise muito forte, muita angústia, muita pressão e não conseguem identificar de onde vem a pressão.
O filme já devia estar em produção quando ocorreu a explosão de protestos de junho de 2013 no Brasil mas, pensando bem, existem muitas semelhanças entre a ficção e a realidade. É a esse clima que que o filme se refere?
Acho que não vimos nem metade do que ainda vai acontecer no Brasil. A história está em andamento. Apesar de não ser o assunto principal do filme, essa sensação de incômodo que o cidadão tem é facilmente identificada no Brasil hoje. No filme tentamos falar disso de maneira metafórica. Trabalhamos poeticamente esse estado de espírito. Sinto sim muita vontade das pessoas de parar de protelar as coisas, enfrentar os problemas. A ideia é não mais empurrar o país com a barriga. Houve tantas mudanças excelentes no Brasil mas ainda falta muita coisa ainda para ser feita.
Riocorrente usa de práticas do naturalismo no cinema mas termina como um filme de fantasia. Podemos dizer que a fita se filia a uma espécie de gênero misto?
O cinema se encaminhou para um naturalismo muito grande principalmente nos últimos anos. O teatro é muito mais livre nesse sentido, se assume como representação de alguma coisa enquanto o cinema pretende ser aquela coisa. A mistura do documentário com ficção também tem se tornado muito comum. Mas não acho que é a única maneira. Queria fazer um cinema mais alegórico, com uso da linguagem do teatro para romper com o naturalismo. Junto com a preocupação social se desenvolve um caminho onírico que não fica se preocupando muito com psicologia dos personagens. Certos personagens reagem a uma situação como uma coisa do momento. Flagramos o momento.