Brasília-DF,
24/ABR/2024

'O homem das multidões' tem interações obtusas e pouco espontâneas

Além da presença expressiva de Jean-Claude Bernardet, o espectador apreciará, com Juvenal, a inspirada sequência onírica, no fim

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Ricardo Daehn Publicação:01/08/2014 06:03
Premiado no festival de Brasília, o filme incomoda pela fotografia excessivamente sóbria (Espaço Filmes/Divulgação)
Premiado no festival de Brasília, o filme incomoda pela fotografia excessivamente sóbria

Vencedores, há dois anos, dos prêmios principais no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (com filmes distintos), os cineastas Cao Guimarães e Marcelo Gomes faturaram, com O homem das multidões, a melhor direção no Festival do Rio, além de terem chegado ao segmento paralelo Panorama do Festival de Berlim. “Difícil é o ser humano, porque máquina não dá problema”, registra a personagem Margô (Sílvia Lourenço), peça sobressalente no cotidiano de Juvenal (Paulo André), metroviário que vive de uma empatia nunca consumada.

Lidando com autômatos, Guimarães e Gomes — representantes dos pródigos cinemas mineiro e pernambucano, respectivamente — captam geladeiras vazias, gente consumida pelo trabalho e demasiada imaturidade social. A representação da frieza, feita da incômoda sobriedade de tons apagados, opacos e simétrico, é de fato consistente.

Mas, visto um filme tão similar quanto Transeunte (ótimo produto de Eryk Rocha), um comparativo se faz imediato. Uma vez que a solidão de Margô parece forjada, há um impasse de desconfiança na solidez dramática do filme. Entre interações obtusas e pouco espontâneas, os cinéfilos se esbaldarão na potência de linguagem oriental acoplada à trama. Além da presença expressiva de Jean-Claude Bernardet, o espectador apreciará, com Juvenal, a inspirada sequência onírica, no fim.



Duas perguntas Marcelo Gomes


De quem partiu a ideia de uma janela diferenciada para a exibição do filme?

Foi uma decisão conjunta. À medida que escrevemos, fomos mergulhando no drama dos personagens: um, na claustrofobia de viver cercado de personagens e o outro, abraça o pânico de viver cercado de pessoas. A janela foi perfeita para construir esta claustrofobia. No conto de Allan Poe em que nos inspiramos, o narrador segue o personagem-título e o enquadramento é meio voyeurístico — parece um buraco de fechadura que você vai seguindo. O personagem olha o mundo pela janela do metrô, que é quadrada. Já a personagem feminina não deixa o Instagram. É o primeiro filme com janela de instagram da história de cinema (risos).

Entre a mineirice e o lado pernambucano de vocês, codiretores, qual foi o saldo?

Saiu uma naturalidade: meu cinema é mais de personagens e o do Cao Guimarães é mais plástico. Houve uma contaminação de influências e, além de sabermos o que queremos do cinema, conhecemos bastante o olhar um do outro. Eu já tinha feito filme de parceria com o Karim Aïnouz, e o Cao teve experiências de parcerias anteriores. Foram 10 anos de construção do filme.

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