Um curto espaço de tempo, uma concentração de divagações sobre as razões da existência e forte peso para a trilha sonora. Traços recorrentes na filmografia da diretora Lina Chamie não passam despercebidos no mais recente trabalho dela, Os amigos. Nunca acomodada, Lina tem como qualidade o risco. Como consequência, acertos e erros. Tratando da relação entre o homem e o espaço, Chamie revela o isolamento e a solidão do arquiteto Téo (o bom ator Marco Ricca), abatido pela perda de um amigo de infância.

Da depressão à virada de mesa, Téo explana a teoria de que “é no vazio que a vida acontece”. A amizade como base primordial para o amor também transparece, e é aí que entra o sentimento por Majú (Dira Paes).



Num paralelo à vida de Téo, a diretora empreende em jogo bastante teatral no qual crianças encenam a jornada de Ulysses (o literário personagem da guerra de Troia). É quando Os amigos sofrem o baque das fracas interpretações infantis. Em compensações, há coadjuvantes interessantes na fita, entre os quais Teka Romualdo, que interpreta a empregada, além de Caio Blat e Alice Braga, que vivem o casal em desacordo.

Clarinetista de formação, Lina Chamie dá a Os amigos um andamento sinfônico que abraça uma equipe muito concentrada de mulheres hábeis em contar, com harmonia, a trama de reconciliação e cumplicidade. A expressiva música do compositor francês Camille Saint-Saëns se sobressai.