Vencedora de Oscar, Marion Cotillard vive protagonista no longa Dois dias, uma noite
Os belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne dirigem o filme que narra a história de uma mulher que batalha contra o desemprego
Prestigiada pelo desempenho recente em Era uma vez em Nova York e vencedora do concorrido European Film Awards de melhor atriz, Marion Cotillard parece viver o auge da carreira. Tem na estante a estatueta da premiação máxima do cinema, o Oscar — façanha que nem outras estrelas francesas, como Isabelle Adjani e Catherine Deneuve, realizaram. Depois da vitória, há sete anos, por Piaf —Um hino ao amor, ela pode novamente empatar com Sophia Loren, como únicas atrizes a levarem o Oscar por fita não falada em inglês.
Ganhar ou perder é questão fundamental no filme Dois dias, uma noite, assinado pelos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Suada, emocionalmente instável, a personagem Sandra (Cotillard) é uma espécie de guerreira amazona, pronta para resolver seu iminente desemprego.
Na onda do cinema social, de Robert Guédiguian e Laurent Cantet, a fita vem sem interferência direta e os cineastas parecem observar os embates de humanidade e de humilhação, encarados pela trabalhadora braçal que, de porta em porta, tenta convencer os colegas (ou ex-colegas) a lhe manterem na equipe, ao abrirem mão de um bônus.
Ressignificar temas como honestidade e vida pessoal, no contexto do trabalho, são prioridades do filme, que se aproxima, em simplicidade, do cinema iraniano. Pequenos gestos, que acusam mesquinhez e indiferença, são barreiras na fita que toca em temas caros aos Dardenne, como imigração (A promessa), condição da mulher (O silêncio de Lorna) e apertos financeiros (A criança).
No clima de thriller, definitivo como Doze homens e uma sentença (1957), Cotillard dá show de decência, com a singela camiseta salmão e um saco plástico na mão. Arrasado, o coadjuvante Timur Magomedgadzhiev, na pele do empático Timur, acompanha a energia.