Eduardo Coutinho traz ao cinema o documentário Últimas Conversas
Bulling, questionamentos honestos e de relatos de amores imperfeitos dão corpo ao filme
Ricardo Daehn
Publicação:15/05/2015 06:03Atualização: 14/05/2015 15:35
Estar ciente de uma certa inadequação talvez seja o ponto que una os personagens do derradeiro filme de Eduardo Coutinho, morto em 2014, finalizado por João Moreira Salles. Enérgicos, inconformados e impulsivos são um punhado de estudantes do ensino médio de escolas públicas. "Escola é perda de tempo", diz um. Como intermediar tanto radicalismo? Pela maturidade, Eduardo Coutinho tem solução em compasso de conta-gota: "O silêncio é ótimo", dispara, para um dos jovens.
Jogado num contato obtuso, o documentarista segue o inesperado, aos moldes do belo O fim e o princípio, de 2005. Nos encontros com os desconhecidos, Coutinho demonstra a vocação de ouvinte: a confiança nele é tanta que os jovens confessam, num paradoxo, a falta de intimidade com familiares.
Três perguntas João Moreira Salles
Há traço indispensável do Coutinho que você assuma ter empregado na finalização do longa?
A grande capacidade de os personagens darem vida ao Coutinho. Ele começa o filme num impasse do qual só consegue sair graças ao contato com esses jovens. Sobre a natureza desses encontros, Coutinho diz no filme que Carlos Nader lhe dedicou (7 de outubro): "Eu te dei alguma coisa, você me deu alguma coisa." É isso a dádiva.
Que legado você percebe no meteoro chamado Eduardo Coutinho?
Se alguém olhar atentamente a obra, verá que os temas mais recorrentes são aqueles caros a Coutinho: morte, fé, a relação pai e filho. Ele não se esconde, antes se expõe.
Qual o peso da originalidade num filme de João Moreira Salles? Seu cinema de câmara dissolve vaidades?
Não sei se dissolve e não vejo nessa eventual dissolução alguma virtude. O que vejo, isso sim, é um cinema honesto que não esconde os seus defeitos, dúvidas, hesitações, embaraços. Se existe vaidade, ela não é escamoteada, o que não significa que essa exposição a destrói. Às vezes até a reafirma, embora eu precisasse refletir mais sobre se isso acontece na obra do Coutinho.
Eduardo Coutinho questiona a impulsividade do jovem em seu último filme
Jogado num contato obtuso, o documentarista segue o inesperado, aos moldes do belo O fim e o princípio, de 2005. Nos encontros com os desconhecidos, Coutinho demonstra a vocação de ouvinte: a confiança nele é tanta que os jovens confessam, num paradoxo, a falta de intimidade com familiares.
Saiba mais...
Bulling, questionamentos honestos em torno da real igualdade e do sistema de cotas e de relatos de amores imperfeitos ou descartados dão corpo ao filme detido em temas, de fato, relevantes para os entrevistados. "O filme acaba com a porta aberta. Não é boa a ideia?", observa, Coutinho, fora de cena. Por sorte, na elaboração do cinema, há surpresas que enriquecem e engrandecem (como a do esforço de João Moreira Salles para assegurar o filme). Na vida real, infelizmente, há pobrezas irreparáveis.Três perguntas João Moreira Salles
Há traço indispensável do Coutinho que você assuma ter empregado na finalização do longa?
A grande capacidade de os personagens darem vida ao Coutinho. Ele começa o filme num impasse do qual só consegue sair graças ao contato com esses jovens. Sobre a natureza desses encontros, Coutinho diz no filme que Carlos Nader lhe dedicou (7 de outubro): "Eu te dei alguma coisa, você me deu alguma coisa." É isso a dádiva.
Que legado você percebe no meteoro chamado Eduardo Coutinho?
Se alguém olhar atentamente a obra, verá que os temas mais recorrentes são aqueles caros a Coutinho: morte, fé, a relação pai e filho. Ele não se esconde, antes se expõe.
Qual o peso da originalidade num filme de João Moreira Salles? Seu cinema de câmara dissolve vaidades?
Não sei se dissolve e não vejo nessa eventual dissolução alguma virtude. O que vejo, isso sim, é um cinema honesto que não esconde os seus defeitos, dúvidas, hesitações, embaraços. Se existe vaidade, ela não é escamoteada, o que não significa que essa exposição a destrói. Às vezes até a reafirma, embora eu precisasse refletir mais sobre se isso acontece na obra do Coutinho.