Sucesso total entre o público da Argentina, representante oficial daquele país na corrida pelo Oscar e premiado com o Leão de Prata pela melhor direção no Festival de Veneza, o longa O clã cumpre as expectativas que o cercam. Mantendo a coerência de uma carreira iluminada — com Abutres (2010), Elefante branco (2012) e A família rodante (2004) —, o diretor Pablo Trapero reafirma a capacidade de entreter. Faz isso remexendo em real caso policial portenho.

 

 

 

Diversão pode não casar exatamente com o mote do que Trapero explora: nada menos do que um retrato de cumplicidade entre familiares perturbados que optam por sequestrar pessoas de alto poder aquisitivo na Argentina dos anos 1980. O diretor alinha conflitos internos de Alejandro (Peter Lanzani, egresso de Chiquititas), descrente das atrocidades promovidas pelo pai Arquimedes (Guillermo Francella, nada menos do que aterrador).

 

Francella impressiona, especialmente quando lembramos do papel de paspalho, derrotado em O segredo dos seus olhos (2009). Agora, como o patriarca Puccio, o ator alucina, com vidrados olhos que transbordam perversão. Estimulando um ninho de extorsão, Arquimedes Puccio apela até para a fachada de recursos a serviço de (falso) uso para ações da Frente de Libertação Nacional.

 

Exaurido pela tensão, o público só pode responder com espanto, em frente a filme que alterna, sem cerimônias, à la Martin Scorsese, violência e falta de dignidade para a família retratada e para suas vítimas.