'Meu amigo hindu' é autoretrato do cineasta Hector Babenco
Longa protagonizado pelo americano Williem Defoe estreia esta semana
Publicação:04/03/2016 06:30Atualização: 03/03/2016 16:51
Willem Dafoe vive Diego, espécie de alterego de Hector Babenco
Às vezes extremamente humano e em outros momentos “fofo” como um porco-espinho, Hector Babenco se deixou absorver pelo cinema no novo filme sob seu comando, Meu amigo hindu. Inicialmente sondando o suposto refinamento da classe alta, pouco a pouco, ele centra fogo no tema verdadeiro da fita — a sofrida escalada contra agressivo câncer linfático.
O desvio do dramalhão e uma narrativa ponderada tanto jogam a favor quanto minam o longa com dose impessoal. Representado pelo americano Willem Dafoe, o cineasta Diego não é outro que não Babenco. Ao lado da esposa, Lívia (Maria Fernanda Cândido), e na companhia do recurso de presenças fantasmagóricas, o protagonista afunda, com a superficialidade que preserva o espectador, numa crescente degeneração.
Com excelente trilha assinada pelo polonês colaborador de Kieslowski, Zbigniew Preisner, alinhada à qualificada direção de arte, Meu amigo hindu aposta em irresistíveis clichês cinematográficos que estabelecem traços de desequilíbrio. Selton Mello, por exemplo, defende um tipo angelical(!?) destinado a “levar” Diego num diálogo direto com Bergman. Há citações diretas ao auge de Babenco, em Pixote (1980) e, ainda, ao biográfico Coração iluminado (1996).
Enaltecendo uma era doce, movida a Cheek to cheek (do clássico O picolino), e desmotivado pela perspectiva de "não teremos mais um filme de Fellini", Diego assimila a passagem da fama e se adapta a maior humanidade. No jogo metalinguístico, ganha um redimido Babenco, menos frio e comedido do que de costume, além da companheira Bárbara Paz, que se apropria do referencial Cantando na chuva (1952) numa cena tão corajosa, que poderia beirar o ridículo.
Confira as sessões de Meu amigo hindu aqui.