Zhang-ke Jia mostra talento no filme 'As montanhas se separam'
A fotografia caprichada é um dos pontos altos do filme premiado em vários festivais europeus

Ainda que tenha perdido a Palma de Ouro do Festival de Cannes para o urgente tema desenvolvido em Dheepan, sobre imigração ilegal, o novo longa de Zhang-ke Jia obteve reconhecimentos importantes como o de ser o melhor filme europeu no Festival de San Sebastián (Espanha).
Dominando como poucos a construção da imagem, o diretor de fotografia Yu Lik-wai (irrelevante como cineasta de filmes como Plastic city) responde pelos maiores méritos do longa de Zhang-ke que impressiona ainda pela maneira como dispersa o conteúdo, em três fases distintas — nos anos de 1999, 2014 e 2025.
Admirado por cineastas como Walter Salles, Zhang-ke é gabaritado em contar das transformações chinesas e das cisões familiares outrora regidas pela tradição, numa sequência de filmes encadeada desde Plataforma (2015).
Tratando de recursos, financeiros e energéticos abrangendo tópicos como petróleo e carvão, o cineasta dispõe o triângulo latente da trama: a disputada e radiante Tao (Zhao Tao) e os rivais Laingzi (Liang Jin Dong) e Zhang (Zhang Yi). Em cena, estão apogeu e queda.
Pela força da música secular que estranhamente dialoga (pasmem!) com Go west, do Pet Shop Boys, na trilha sonora; pela singularidade dos dramas relacionados ao trio central e pela crítica indireta ao capitalismo desmedido, em que um jovem atende por “Dollar” (Dong Zijiang), Zhang-ke Jia demonstra muito do teor de sua soberania no cinema contemporâneo.
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