Narrativa envolvente do livro 'A garota no trem' se perde na adaptação cinematográfica
Entre os erros está a tentativa de criar suspense, que acaba tornando a situação forçada com abuso de slow motion e trilha sonora
Adriana Izel
Publicação:28/10/2016 06:27Atualização: 27/10/2016 18:32
Emily Blunt interpreta Rachel, a protagonista do longa-metragem
O longa-metragem A garota no trem, de Tate Taylor (Histórias cruzadas), tinha tudo para ser um sucesso de bilheteria. O filme é baseado no best-seller homônimo de Paula Hawkins, que, só no ano passado, vendeu mais de 2 milhões de exemplares. No entanto, a adaptação cinematográfica tem seus pecados que podem o levar ao insucesso, principalmente, entre os leitores.
O filme acompanha Rachel (Emily Blunt), mulher divorciada, alcoólatra e desempregada, que pega um trem para Manhattan, em Nova York, diariamente. No trajeto, ela observa as casas e tenta imaginar a vida daqueles que vivem ali. Rachel se demora principalmente na casa em que vive Megan (Haley Bennet), mulher que, na opinião da protagonista, tem uma vida perfeita com o marido Scott (Luke Evans), mas que some misteriosamente um dia após ser vista aos beijos com um outro homem.
A narrativa do longa leva a crer que Rachel pode ter alguma ligação com o desaparecimento da loura, que mora há apenas duas casas de sua antiga residência, onde atualmente vivem seu ex-marido Tom, papel de Justin Theorux, e a atual mulher, Anna, vivida por Rebecca Ferguson. Obcecada pelo ex-marido, Rachel estava na rua, transtornada, na mesma noite em que Megan foi vista pela última vez.
Erros e acertos
Assim como no livro, a história é narrada do ponto de vista das três mulheres, Rachel, Megan e Anna, e em diferentes tempos cronológicos, com flashbacks e situações atuais. Se na obra literária o recurso é essencial para criar um suspense, no filme se torna confuso e até enfadonho. Pois é, inclusive, a tentativa de criar um suspense que atrapalha o filme. Diferentemente do livro, em que Hawkins consegue pela narrativa prender a atenção do leitor, o longa abusa dos recursos de slow motion e até da trilha sonora para criar a situação, soando tudo muito exagerado.
Outro problema está ligado à construção das personagens. A Rachel de Emily Blunt é pouco empática, assim como o Tom de Theorux e o Scott de Evans são personagens superficiais no longa. Para quem leu os livros, a mudança na narrativa também pode incomodar. O resultado escolhido na adaptação é o mesmo, mas o caminho até ele muda, tendo algumas omissões em alguns casos ou até alterações por opções que não fazem muito sentido.
Confira as sessões.
Mas, A garota no trem não tem apenas defeitos. A reviravolta na história e a sensação de vários suspeitos do crime ainda podem salvar o filme (pelo menos, para quem não leu os livros), assim como a forma com que a história faz com que as vidas de Rachel, Megan e Anna estejam ligadas, não só pelo fato de terem vivido na mesma rua em Nova York, mas, principalmente, por terem feito parte de relacionamentos abusivos ao longo da vida.
Comparação
Desde que foi lançado, A garota no trem logo foi comparado a outro sucesso literário: Garota exemplar, de Gillian Flynn, adaptado para o cinema em 2014, com roteiro de Flynn e direção de David Fincher. Realmente as duas produções têm aspectos em comum, como a narração não linear, que vai e volta no tempo; os relacionamentos amorosos destruídos; e, claro, o mistério em torno do desaparecimento de personagens. Porém, se Garota exemplar contou com uma versão mais fiel na telona, esse foi o defeito de A garota no trem. Faltou chamar Paula Hawkins para ajudar no roteiro.