Nate Parker apresenta forte crítica ao preconceito racial em novo filme
Longa 'O nascimento de uma nação' é baseado em uma história real e mostra condições a que eram submetidos os escravos
Ricardo Daehn
Publicação:11/11/2016 06:12
Algumas citações, entre as quais a do Livro de Pedro, que propõe a incontestável sujeição de “escravos” aos “senhores”, e outra, retirada de Thomas Jefferson, dono de temor pela humanidade quando aceita a dogmática justiça de Jesus, deixam evidente o poder de fogo da proposta do diretor Nate Parker, ao conduzir O nascimento de uma nação. Sai o discurso pacifista de Selma — Uma luta pela igualdade e entra uma posição afiada contra a odiosa carga de preconceito racial. Tudo numa escala muito atual.
Confira aqui as sessões de O nascimento de uma nação.
Antes de louvar o poder transformador do cineasta da fita premiada por público e júri do Festival de Sundance, vale uma ressalva: pairam sobre Nate Parker antigas (e nebulosas) acusações de estupro. A obra criada, anos depois dos fatos, é primorosa. Na Virgínia do século 19, viveu o escravo Nat Turner. Na trajetória dele, se embaralham elementos de filmes de guerra, documentário, drama e teor forte de religião.
Há traços ambivalentes tanto em Nat (a princípio, um poço de resignação) quanto no “mestre mundano” que o mantém (o ótimo Armie Hammer, o príncipe de Espelho, espelho meu), e mais ainda, em leituras de Evangelhos e afins que ilustram o longa. Como enunciado, coragem, visão e sabedoria guiaram Nat, que, destoante de “sua espécie”, foi letrado e se refestelou no risco que passou a representar, diante da doutrinação bíblica.
O filme conquistou o júri e o público no festival de Sundance
Enfrentando a escória da dita alta classe (na qual Jackie Earle Haley, de Pecados íntimos, brilha), o escravo criado na lida com lavoura, em cena, radicaliza, criando um libelo cinematográfico, forte e cru, repleto de atrocidades, sem deboche à la Django Livre, mas potente, em denúncia de atos e condições asquerosas.