Ficção sobre prisões políticas no Chile homenageia Pablo Neruda
Cineasta Pablo Lorraín utiliza a magia do cinema para dar um fim mais poético aos conflitos
Ricardo Daehn
Publicação:16/12/2016 06:54
No fim dos anos de 1940, o futuro prêmio Nobel de Literatura Ricardo Basoalto, conhecido como Pablo Neruda, teve poucas opções pela frente: poderia ser preso ou se tornar foragido. O cineasta Pablo Larraín, em Neruda, se aventura pela ficção para contar um episódio que demarcou a instauração de prisões políticas na terra do compatriota Neruda.
Com jogo de claros escuros e uma narrativa ao estilo de Prenda-me se for capaz, Larraín se apoia na sagacidade de encarar o poeta como um ser mundano que, sim, luta por algo, num impulso comunista, mas tem a existência enaltecida por olhares de terceiros.
Veja as sessões de Neruda.
Numa crise em que o presidente dos Estados Unidos seria “chefe” do governante chileno (à época, Gabriel González Videla), Neruda (Luis Gnecco), depois de enfatizar ácidas críticas ao país, busca a clandestinidade, por estar sujeito à prisão. Às retaliações e ao achatamento de classes vindas do Senado, do qual fez parte, Neruda respondia com conteúdo como o embutido na poesia Os inimigos; daí, “o rei do amor” se mostrar bem político, no recorte de Pablo Larraín (dono de fitas de discurso afiado como No e Post Mortem).
![Luis Gnecco vive o poeta Pablo Neruda nas telonas ( Imovision/Divulgacao) Luis Gnecco vive o poeta Pablo Neruda nas telonas ( Imovision/Divulgacao)](http://imgsapp.df.divirtasemais.com.br/app/noticia_133890394703/2016/12/16/157999/20161215135722632564i.jpg)
Luis Gnecco vive o poeta Pablo Neruda nas telonas
Na trama, pouco a pouco, Larraín implanta a mágica do cinema para dar acabamento poético a um virulento e insípido policial (Gael García Bernal, ótimo), encarregado de prender Neruda.
Dono de espírito libertador e da obsessão por igualdade, Neruda vê a aura construída pelos que o rodeiam, enquanto se refestela em bordéis e treina a pontaria, com tiros, num pátio. Tudo em nível bem humano. Além da fotografia esmaecida (a cargo de Sergio Armstrong), que reforça um tom sépia, o filme, candidato ao Globo de Ouro, se vale de momentos de deboche e sobreposições de pensamentos dos personagens, especialmente os do policial, cada vez mais pequeno, frente ao humilde Neruda.