'Eu, Daniel Blake' aborda opressão da sociedade ao proletariado
Com Dave Johns como protagonista, o filme narra a história de um cidadão em busca de direitos trabalhistas
Ricardo Daehn
Publicação:06/01/2017 06:41Atualização: 05/01/2017 16:38
O proletariado é o alvo no novo filme de Ken Loach
Sabe aquele cidadão braçal, que nunca usou a internet, é tido como ultrapassado, depende(ria) de benefícios do governo e é expurgado da sociedade, mesmo com enorme senso de colaboração e solidariedade?
Pois é: esse tipo é o protagonista do ótimo Eu, Daniel Blake, um libelo a favor do humanismo de raro emprego, na atualidade. Vivido pelo pouco conhecido Dave Johns (uma presença marcante), o protagonista está a passos do ocaso de dignidade.
Confira os horários do filme.
Morador de Newcastle, Daniel faz ecoar o tratamento de questões cruciais de hoje, no cinema, sempre sereno (e, raras vezes, sisudo) e comandado por Ken Loach. Crítico do governo em fitas como Agenda secreta (1990), Loach abraça questão do proletariado no novo filme. A sociedade corrói um indivíduo oprimido que apenas quer assegurar direitos trabalhistas. Isso é filmado sem formalidades, já que Daniel é envolvente e sagaz.
Recorrente roteirista de Loach, Paul Laverty entrega um roteiro competente, no qual despontam empatias esparsas de personagens como as de Hayley Squires (Katie, uma mãe solteira) e Kate Rutter (que vive Ann, uma terceirizada agente do governo). O descaso dá as caras pela intragável musica dos telefones reservados aos serviços sociais britânicos e com exigências burocráticas do pior naipe.
Com a chegada de um novo presidente norte-americano, uma crise acentuada no Brasil do desemprego e em cenário no qual até o papa se esforça em repreender cabal individualismo, haveria melhor momento para Daniel Blake despontar nas telas?