'O homem que caiu na Terra' traz David Bowie de volta nas telonas
O roqueiro interpreta uma espécie de alienígena que experimenta as vivências e prazeres humanos até cair nas mãos dos cientistas
Ricardo Daehn
Publicação:13/01/2017 06:17
Filme presta homenagem a mestres como Michelangelo Antonioni
Que anjos não tenham sexo é consenso, na vida e, muitas vezes, no cinema; mas, no imaginário audiovisual, foi o roqueiro David Bowie quem melhor determinou a ambiguidade da caracterização dos extraterrestres, no papel-título do longa O homem que caiu na Terra, assinado por Nicolas Roeg, que chega às telas, em versão restaurada, 40 anos depois das primeiras exibições.
Thomas Jerome Newton (Bowie) se alinha perfeitamente à galeria de tipos visionários ou mesmo pessoas nefastas à sociedade obrigadas à “regeneração” nas telas. Com algo da estatura dos protagonistas de O aviador e Laranja mecânica, Thomas tem uma missão fundamental para a sobrevivência, mas é melhor que fique oculta.
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Até se tornar um joguete nas mãos de cientistas, o alienígena é contorcido, revirado do avesso, e cede a fraquezas humanas, provando do teste de dinheiro gerar felicidade, uma vez que se torna magnata na Terra. Noutro tom do clássico empregado em Inverno de sangue em Veneza (1973), Roeg, por vezes, perde o foco e há espaço para que, na forma, o filme acuse estar um pouco datado.
Parceiro da solitária Mary-Lou (Candy Clark, de Loucuras de verão), o protagonista faz ecoar uma homenagem direta aos mestres Michelangelo Antonioni e Karel Reisz, à base de luz entrecortada. No cerne do conteúdo de O homem que caiu na Terra, entretanto, o diretor segue enfático. O humanóide, na aculturação, se fragiliza com direito a “encantamentos”, em que pesa o alcoolismo. Os excessos da televisão e a “segurança” de habitar um “país rico” são dados que ainda mantêm frescor.