A garota desconhecida explora o peso da culpa
Irmãos Dardenne são autores do drama sobre médica em conflito
Ricardo Daehn
Publicação:10/03/2017 06:00Atualização: 09/03/2017 18:34
A médica Jenny se sente culpada pela morte de uma paciente
Sempre de prontidão quando o tema é examinar aspectos da sociedade contemporânea, o cinema dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, mesmo áspero e descrente, soa como alerta. Rigorosos na capacidade de acoplar uma atmosfera de realidade (herança da prática com documentários de ambos) às densas encenações, em A garota desconhecida, os Dardenne vão fundo no peso da culpa e no dom da reconciliação entre personagens com motivações e vidas muito diferentes.
Inesperadamente, vem do Gabão a força motriz de todo o enredo: uma moça que, descolada da cultura original, vaga atrás das poucas oportunidades ofertadas nas ruas de Liège, Bélgica. Quem domina, entretanto, cada fotograma do longa-metragem é a jovem doutora Jenny (a bastante esforçada Adèle Haenel), ao acaso, ligada à gabonesa.
Obrigada, pela profissão, ao trato diário com sofrimentos alheios, Jenny se nega a atender a um chamado à porta do consultório e assume o peso de, possivelmente, ter contribuído para a morte da desconhecida. Daí, quem sofre no desenvolvimento do filme é ela.
Valorizar o ser humano, independente das circunstâncias parece uma constante na vida dos cineastas Dardenne, que assinaram filmes de enorme repercussão, como A criança (2005) e Um dia, duas noites (2014).
A capacidade de empatia levará Jenny a uma verdadeira jornada policial. Dona de uma personalidade cheia de bondade, ela empreende uma escalada perigosa, que colocará em jogo valores pessoais, ao se aproximar dos pacientes. Sem grande impacto, cabem aos atores Olivier Bonnaud, Louka Minnelli e Jérémie Renier, pela ordem, os papéis de Julien, um estagiário da médica; Bryan, um rapaz com problemas emocionais e o pai desse último.