A literatura, a crônica familiar e o ateísmo aproximam o diretor Terence Davies do seu objeto em Além das palavras: a poetisa Emily Dickinson (numa retumbante interpretação de Cynthia Nixon). Estoica, numa sociedade em que às mulheres cabia o papel de bibelôs indiferenciados, Emily causou, em pleno século 19.

 

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Enquanto ouve a mãe (a brilhante Joanna Bacon) declarar que “a vida passou como se fosse um sonho”, a poetisa buscou um caminho torto, nada indiferente à batina do reverendo Wadsworth (Eric Loren) e que, pelo olhar da irmã Vinnie (Jennifer Ehle, da série Orgulho e preconceito), sempre cravou “personalidade extraordinária”. No filme, Terence Davies registra a dedicação desmedida de Emily pela família, com embates com o irmão Austin (Duncan Duff) e dose de tolerância do pai, menos severo do que esperado, interpretado por Keith Carradine.

 

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Austera e difícil de agradar, Emily levou vida uma reclusa, ao ponto de críticos defenderem as qualidades dela como relacionadas ao estado solitário e infeliz. Pouco importa, quando se vê a obra dela dispersa num filme como Além das palavras, recheado de densidade e compaixão.

 

Longe de confundir “recato feminino com estupidez”, como defendeu, Dickinson se mostra íntegra no filme de Terence Davies, em que crava excelência ao desviar de melindres corriqueiros de outras mulheres, mas não consege fugir da falta de prosperidade advinda das posturas radicais. Exigente, a poeta era ferrenha até contra os editores, ao lutar por simples pontuações de frases, que embaralhavam conceitos de “clareza e de obviedade”.