'O cidadão ilustre': uma comédia sobre literatura
Os cineastas Gastón Duprat e Mariano Cohn empregam uma linguagem documental no longa
Ricardo Daehn
Publicação:12/05/2017 06:00Atualização: 13/05/2017 20:22
Oscar Martínez foi premiado no festival de Veneza por 'O cidadão ilustre'
Prêmios na Espanha, na Itália e em Cuba demonstram o poder de comunicação do contemporâneo cinema argentino, em especial, quando ele dá relevância a aspectos humanos dos personagens. É o caso de O cidadão ilustre, criado por tríade de artistas -- os diretores Gastón Duprat e Mariano Cohn, junto com o roteirista Andrés Duprat -- anteriormente escalada para desenvolver outra trama a serviço do exame da ética, como visto em O homem ao lado, premiado, há oito anos, no Festival de Sundance.
Nos tempos em que a sisudez se ajusta a talentos pop como o de um Bob Dylan, é interessante assistir a O cidadão ilustre, detido na entrega de um prêmio Nobel para fictício compatriota de Jorge Luis Borges. Vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Veneza, Oscar Martínez (Ninho vazio) interpreta o renomado escritor Daniel Mantovani.
Exigente, debochado e nada religioso, ele é uma celebridade, em escala internacional, que – por uma dose de capricho – decide retornar, passados 40 anos, para a pequena cidade em que nasceu, batizada de Salas.
Papel, lápis e vaidade são diretamente apontados, no filme, para a composição de bons autores. Mas, a verdade é que, multifacetado, Daniel Mantovani abriga muitas incongruências. Sob escudo de simplicidade na escrita, ele camufla a satisfação de ser pernóstico no dia a dia. Nessa linha crítica, O cidadão ilustre abrange tópicos que vão do exame do que seja provinciano ao interesse voyeurístico de desvendar casos extraconjugais. Pesa, no fundo, da trama o exame de limites entre verdades e mentiras.
Assista ao trailer: