Crítica: 'Poesia sem fim' é uma autobiografia de Alejandro Jodorowsky
No longa, a trajetória do diretor é encenada pelo filho do cineasta, Adan Jodorowsky
Ricardo Daehn
Publicação:14/07/2017 07:00Atualização: 13/07/2017 18:05
No filme, Alejandro é apresentado como uma alma sublime, um futuro grande artista
Vista como uma “impermanência permanente”, a vida é o que move o diretor Alejandro Jodorowsky, à frente de Poesia sem fim. Pulsante, o personagem central é o jovem Alejandro (interpretado por Adan Jodorowsky, filho do cineasta) que, em busca a si mesmo, empreende jornada na qual se recusa a ser “um morto a mais, entre tantos outros mortos” (uma crítica à atual letargia do mundo).
Sedento de conteúdo para a sua produção, o protagonista amputa a dependência inicial da família disfuncional, na qual destoa.
Muito da ação do longa depende da dinâmica do Café Íris, em que a musa Stella Díaz (Pamela Flores) bebe cervejas aos litros. Tudo, aliás, no filme, acusa situações e grandezas superlativas. Daí, o universo de Jodorowsky ter paralelo com o de Federico Fellini.
Os personagens se relacionam ao mundo circense, transitam num colorido forte e desafiam padrões acadêmicos. Homem do teatro, o cineasta abusa de jogos cênicos, em que figuram até, em algumas cenas, auxiliares de palco, pouco camuflados.
Clique e confira as sessões do filme
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Intimando os protagonistas a abolir máscaras sociais, Jodorowsky desperta os sentidos dos espectadores. Em outra aproximação com Fellini, o artista chileno aposta na projeção de atores com nanismo.
Inesquecíveis, nesse insight são os anões como um mini-Hitler, chamariz para a entrada na loja El Combate, que derruba preços altos, e ainda o casal do anão com a anã que, entre juras de amor, declaram “juntos, podemos crescer”.
Por fim, o longa encerra a trajetória de um artista selvagem, capaz de redimensionar a divindade de Neruda e a abraçar descobertas como o prazer de respirar e a liberdade de voos poéticos.